sexta-feira, 13 de novembro de 2015

2 meses de escola - como vai a língua?

Liv completou dois meses de escola (sem contar contar com as férias, claro). Ela entrou na escola maternal com as crianças francesas, sem falar nada de francês. O começo foi MUITO difícil para ela, questionei-me várias vezes se estava fazendo certo, se eu não tinha errado em ter vindo para cá, tivemos vários dias ruins, muita agitação no sono, no cotidiano, nós duas ficamos estressadas no começo, era uma readaptação para as duas. Com a diferença que eu tinha escolhido vir, ela não. Imaginem, uma criança super desenvolvida, que já falava muito bem o português, que se expressava, conversava, chegar em um lugar que ninguém a entende e que ela não entende ninguém. Mesmo com toda a preparação que tentei fazer, o choque foi muito grande. Eu chorei algumas (muitas) vezes depois que ela dormia ou enquanto estava no banho tentando lavar a alma e acreditar que ia passar. Sofri um pouco sozinha esse período difícil, porque eu mesma estava "me julgando" por ter tomado uma decisão que já duvidava ser a decisão acertada. Confesso que tive dificuldade em acreditar que ia passar.

Um mês depois a professora disse que ela já entendia bem e que começava a falar algumas palavras, pequenas frases. Hoje, converso com ela em francês sem dificuldade. Ela entende praticamente tudo. Fala pequenas frases e tem um bom vocabulário para o tempo que estamos aqui. Fez amiguinhos na escola. Não reclama mais de acordar cedo e nem de colocar o casaco. Os nossos estresses que eram diários e excessivos, retornaram à frequência normal para uma criança de 3 anos - e uma mãe/dona de casa/pesquisadora. As coisas agora parecem estar, finalmente, no lugar. Nada assim, eternamente lindo, colorido, com pessoas saltitando pelos jardins - só esporadicamente, hahaha - apenas o real. Mas, quem quer viver de fantasia, né? Viver o real em Paris já me parece fantástico o suficiente :P mesmo com o cheiro de cocô de cachorro que domina em dias de chuva, com a "delicadeza" de algumas criaturas, com a suvaqueira no metrô, com os micos que pago, com o meu atraso de cronograma, posso finalmente sentir que foi uma boa decisão.

Hoje encerramos a noite batendo um papo em francês. Precisei filmar parte dele porque me surpreendi em vê-la entendendo tudo e respondendo - mesmo que às vezes respondesse em português. A minha pequena tá crescendo. Agora curte comer entrada, prato principal, sobremesa e queijo. Chama os seus bichinhos de doudou. Me chama de maman. Diz "attends un peu!" quando quer que eu espere. Diz 'bonjour' e 'bonsoir' na hora correta. Corrige a minha pronúncia quando não acerto o nome dos coleguinhas. Dorme sem ser ninada, na sua caminha. Mas, foge para a minha no meio da noite. Nossa parceria foi reestabelecida e nosso amor renovado. E essas são as nossas notícias.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

1o mês de aula e como vai a língua?

Hoje Liv completa um mês que frequenta a escola francesa e eu quero registrar bem o nosso percurso, pois foi algo que sempre buscava por aí, uma vez que creio ser a parte mais inquietante de uma mãe (ou pai) que se aventura em outro país sozinha com filho(s). Como disse em um post anterior, Liv não teve problemas em ir para a escola, ela sempre foi sem reclamar - exceto um dia ou outro que a preguiça tava grande para sair da cama, rsrsrs - e depois de três dias já começou a ficar na escola em período integral. Acordamos às 7h30; 8h50 deixo ela na escola e pego às 16h15. São 7h longe de mim, horas que eu uso para fazer minhas coisas, resolver algo de modo mais rápido - porque sair com criança é sempre um desafio -, estudar, ler, ficar à toa...de modo que das 16h15 até a hora de dormir eu fico com atenção exclusiva para ela. Finais de semana são dela também, não deixo nada para estudar sábado e domingo.

No final da 1a semana de aula teve uma reunião de pais e nela a professora falou sobre o que acontecia na escola. Disse que eles fazem todos os dias um pouco de exercício para a coordenação motora, que pode ser um percurso com obstáculos ou um percurso com bicicleta; que trabalham as formas, canções, linguagem; buscam também estimular a independência das crianças (reclamou, inclusive, que alguns pais se gabam do filho que sabe escolher aplicativos no celular, mas não consegue colocar o próprio sapato - ponto para a professora!). Na hora do almoço eles vão todos para o refeitório onde é servida uma entrada, o prato principal e a sobremesa. A alimentação é bem variada, no final do post tem uma foto com o cardápio que rolou no início das aulas. Depois do almoço, vão ao banheiro, depois pegam o doudou para tirar um soninho - sesta!. O doudou é algum bichinho (normalmente uma pelúcia) para a criança se acalmar, um amiguinho. Você escolhe um de tamanho pequeno/médio e ele fica na escola. Liv escolheu uma corujinha rosa que ela ganhou da avó dela no Brasil. Depois da sesta, eles vão ou para o parquinho ou fazer uma atividade em sala e nós vamos buscar. Quase sempre que chego eles estão ouvindo música :)

Apesar dela ter ficado facilmente na escola, o começo foi muito difícil para ela e para mim, e ela demonstrava isso através de uma forte agitação. Eu estava bem nervosa com esse novo momento, irritadiça; ela reagindo a tudo com choro, com grito, com agitação extrema; eu me irritava mais e era um verdadeiro caos. Eu conversava com ela, explicava que a gente precisava encontrar uma forma que não fosse tão estressante, mas tinha dias que a pergunta "que porra eu tô fazendo aqui?" ressoava na minha mente. As duas primeiras semanas foi de sono super agitado e emoções à flor da pele. Não cheguei a ter vontade de desistir, mas estive a poucos passos de gritar por socorro, hahaha. Todos os dias, a mesma coisa...buscava ela na escola, a professora dizia que ela não tinha conseguido dormir após o almoço, que estava muito cansada, fazendo muito barulho, e que, como ela não entendia a língua, acabava se irritando e extravasando as energias de outras formas. Ela dizia que ia passar, que eu não me preocupasse, mas eu ficava para morrer, sem saber o que fazer, me questionando se estava fazendo o certo em estar aqui, preocupada, e isso me cansava muito. Conversava muito com a Liv, dizia que era difícil mesmo, mas que precisávamos fazer um esforço, tentar se comportar melhor na escola, se acalmar...

Quando eu já estava cansando de ouvir a mesma resposta da professora, no final da 3a semana, a professora disse que ela estava bem mais calma, e dormindo bem na hora da sesta. Na 4a semana disse que ela estava compreendendo bem e que já estava tentando falar (pequenas palavras e frases do jeito que ela podia), e isso acalmou meu coração. De acordo com algumas pessoas que conversei o primeiro mês é o mais difícil mesmo - mas, nunca adianta os outros falarem até você viver a coisa de fato! - e que em geral depois de um mês eles já estão entendendo a língua. Voilà, comprovamos os dados. Claro que a Liv não entende TUDO, mas já consegue se virar. Quando eu falo em francês com ela - em geral eu falo traduzindo - e ela não entende sempre pergunta o que eu disse e agora não se incomoda mais se eu falo em francês. Antes ela dizia: "não, mamãe, não fale assim". Percebi, também, que ao longo do tempo vivenciando o francês o interesse pela língua foi aumentando. Por exemplo, antes quando ela pegava meu telefone ia direto para os aplicativos que tinham músicas em português; agora, ela abre 99% das vezes os aplicativos em francês. Desenhos animados 100% em francês. Ela curte bastante o Trotro, um desenho de um burrinho, e eu gosto que ela assista porque ele faz coisas do cotidiano, narrativas que auxiliam no vocabulário e ritmo da língua; gosta também da Émilie, uma gatinha; assiste o Caillou de vez em quando; e filmes tudo em francês. Eu assisto junto porque também me ajuda, hahaha. Às vezes ela mistura palavras em francês nas frases em português ou fala umas enrolações que pensa que é francês, mas o processo tá rolando bem...

O começo é desesperador, mas parece que de fato o primeiro mês é o mais cruel. O fato dela já ter vivência na escola para nós foi ótimo porque a língua foi o único fator de estresse. Conheci pessoas que a criança foi para a escola direto em outra língua e a coisa tá caminhando, mas não sei, talvez seja estressante demais. Eles pedem que a criança esteja desfraldada e muitas que chegam ainda estão sedimentando essa aprendizagem, imagino que deva ser difícil para elas...neste sentido, foi ótimo que Liv tenha chegado já com habilidade de ir ao banheiro sozinha. Eu até achei que ela pudesse ter algum acidente no começo, por não conseguir pedir para ir ou porque ficou entretida em outra atividade, mas não teve...todos os pipis e cacas foram no banheiro. Creio que isso é mérito também da escola, porque eles levam todas as crianças ao banheiro nos intervalos das atividades, de modo que Liv nem precisava pedir. 

Estou satisfeita com a escola e confiante que conseguirei estudar o que preciso nestes intervalos que Liv está na escola. Tudo que eles abordam aqui é igual ao que era abordado na escola brasileira, a diferença é que eles são mais regrados, possuem horários (até os pais precisam seguir as regras! Tem hora para deixar e buscar, isso é religiosamente cumprido por todos), uma rotina bem estabelecida, mas não vi nada de assustador, de frieza, pelo contrário...eles são atenciosos, carinhosos, todo dia somos recebidos com sorriso, educação, de todo o pessoal da escola. Uns são mais afetuosos que os outros, mas em todo canto é assim, né? As diferenças que vi aqui - na escola! - em nenhum momento foram pontuadas como negativas por mim. Depois de uma semana intensa, sábado de manhã Liv vai ao "Bébé Gym", que acontece na própria escola e é gratuito. É aula de ginástica, eles trabalham o desenvolvimento motor de forma lúdica, super bacana! No fim, quem tá mais aproveitando da vida francesa é a Liv! :P

Cardápio que rolou no início das aulas

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Maternidade opressora do K-rai: porque eu não 'nasci para ser mãe' (e porque a 'criação com apego' é uma bomba)

(ainda em fase de rascunho...)

Hoje resolvi dar uma pausa nos meus posts sobre La vie en France para retomar um tema que é constantemente discutido nos meios do que costumamos chamar "maternidade ativa". É provável que eu não consiga organizar bem os meus pensamentos, mas é fato que há muito tempo tenho me incomodado com algumas questões. Aliás, desde que a Liv nasceu, né? Poderia iniciar explicando o que é e o que deixa de ser a famosa 'criação com apego', mas não me deterei nisso. Na tentativa de me fazer entender - o que não significa que todos devam concordar comigo - vou tentar abordar o tema envolvendo em conjunto com a minha história.

Nunca imaginei a vida sem ser mãe. Achava que isso era fundamental para mim, apesar de não necessariamente achar que toda mulher devesse ser mãe. Eu não achava que isso fosse uma necessidade para todas as mulheres, mas confesso que achava estranho se alguma optava por não ter filhos. Eu queria. Dois ou três filhos, achava que era melhor assim, afinal, criança precisa ter irmão, né? Então, imaginem a minha alegria quando engravidei. Vivi a gravidez como um sonho que se tornava realidade. E nesse sonho comecei a buscar sobre nascimentos, tive contato com a realidade obstétrica brasileira, e comecei a ver que nascer por via vaginal era uma grande que eu precisaria travar. Em grupos de partos comecei também a ter acesso a textos sobre maternidade, aleitamento, sobre a importância dos primeiros anos de vida, sobre a necessidade de se criar com apego que teria como objetivo último o desenvolvimento sujeitos mais humanos, fortalecendo vínculos positivos, de amor. Fui percebendo que era tipo "um combo". A partir do momento que você se envolvia com a causa da humanização do parto, acabava assumindo também modelos de criação que iam de encontro ao estabelecido socialmente.

Liv nasceu e sofreu muitas intervenções desnecessárias após o seu nascimento. Eu sabia que um bebê deveria mamar, estar com a mãe assim que nascesse, mas a minha filha foi afastada de mim poucos minutos depois do nascimento e a levaram para uma UTI neonatal. Foi um procedimento desnecessário e que além de todo o sofrimento que nos causou no momento, gerou em mim um sofrimento por não ela não ter vivido como deveria ser nos seus primeiros momentos. E eu chorei muito e por muito tempo. A culpa que se instalou em mim no puerpério por "ter permitido" que ela vivesse tudo aquilo me matava todos os dias. E eu fazia de tudo na necessidade maluca de "me redimir" com ela...mas, era um tempo que não poderia ter de volta e isso me magoava muito. Em um desses dias, que a tristeza me dominava, o pai dela - preocupado com ela e comigo - perguntou: mas, você acha que isso vai causar alguma coisa nela no futuro? Você acha que isso vai a prejudicar de alguma forma? Não, eu não achava. Mas, paradoxalmente, estava acreditava que sim, naquele momento. 

Foi a primeira vez que alguém colocou em cheque, mesmo sem intenção, o modelo epistemológico em que eu estava me envolvendo. Eu, que terminei a graduação defensora da Psicologia Sócio-Histórica, que me via fascinada pelas elaborações de Vigotski, que condenava fortemente o psicologismo e o determinismo, estava de repente envolvida em um discurso que abarcava justamente essas questões. Defendi avidamente a Criação com Apego, falei de Winnicott e Bowlby, trouxe para minha casa bases epistemológicas com as quais eu não me identificava, mas que parecia o certo naquele momento. E fiz de tudo para proporcionar o holding, para ser a tal mãe suficientemente boa, cuidava de todas as demandas nem que para isso precisasse me anular completamente. Contribuí, com isso, com o apagamento de outras figuras da vida de Liv e com a carga excessiva em cima dos meus ombros. Aos poucos comecei a ver que estava presa em um discurso que não me pertencia. Como eu poderia defender os direitos reprodutivos, defender as mulheres, quando esse discurso travestido de amor (e de apego seguro) enclausurava essas mesmas mulheres na função de mãe? Mães que julgavam e culpavam a si mesmas quando estavam exaustas e não queriam mais amamentar (mas, não podia né, tem que amamentar até os 2 anos!); que acreditavam terem "saído de uma Matrix" e eram privilegiadas por isso, enquanto as outras, coitadas, não estavam empoderadas o suficiente e acreditavam no médico fofo que passava mucilon para o filho. Essas mães - e eu me incluo aqui - começaram a virar escravas de um outro discurso que dizia a elas como deveriam cuidar dos seus filhos para desenvolver sujeitos emocionalmente sadios. O risco é enorme né, imagina só, o risco é criar um sujeito que não é emocionalmente sadio. Quem iria querer isso!? 

A questão aqui é: eu não compartilho da ideia de que os primeiros anos de vida são fundamentais no desenvolvimento da personalidade e muito menos que o sujeito é puramente uma expressão do seu desenvolvimento emocional, psicológico. E comecei a ver que, bem, sendo assim, não nasci para ser mãe. Não nasci para me anular, para ser um ser abnegado e nem desejo que minha filha seja assim. Alguém poderia dizer que: "ah, mas ser mãe é isso mesmo, tem que se sacrificar, tem que colocar o filho acima de si". Não, velho, não mesmo... Quem disse isso? Essa visão de que maternidade é sacrifício e que a mulher é uma heroína abnegada é um discurso de opressão do k-rai. Retira a responsabilidade de outros atores no desenvolvimento dos sujeitos e reforça a culpabilização feminina. Estou dizendo para deixar o bebê chorando, não amamentar e relativizando todas as (supostas) escolhas das mulheres? Não, não mesmo... estou apenas dizendo que é preciso problematizar de onde partem determinados conhecimentos propagados como verdades. Você realmente acha que é seu modo de maternar na 1a infância que determinará o futuro do seu filho? Eu não. Eu acho que o sujeito sofre determinações sociais ao longo da vida toda e as possibilidade de superação delas também estão presentes na vida toda. Não podemos confundir criar com amor e respeito com "criação com apego". Não são a mesma coisa. A primeira envolve a empatia com o ser humano sob sua responsabilidade, a segunda é uma filiação epistemológica que vai além disso (que, ao meu ver, mais aprisiona do que contribui).

Fato é que isso acirra lutas entre sujeitos quando a pauta não deveria ser individual, mas social. Condenar aquela mãe que não amamentou, chamá-la de menas mãe, acreditar que ela não se empoderou o suficiente, além de uma arrogância sem tamanho é ignorar todas as questões materiais que nos rodeiam. É olhar para o seu próprio umbigo e acreditar que se você leu, buscou, qualquer um pode fazer. É quase um discurso meritocrático, individualizante, achar que é apenas uma questão de empoderamento. Não, não é. Você, mulher, se encerra nesse discurso que te oprime, que te faz achar que não está sendo suficientemente boa para desenvolver um apego seguro, um vínculo positivo que proporcionará um sujeito saudável; e, ao mesmo tempo, encerra essas outras mulheres em um outro. E o mais bizarro disso tudo é ver que mesmo não sendo exatamente um conhecimento feminista, uma vez que ele oprime a mulher, é defendido com unhas e dentes em movimentos que tem "direitos reprodutivos" como pauta. Parece-me bem contraditório.

Hoje, então, começo a entender o que tanto me incomodava. Eu estava defendendo uma pauta com a qual não me identificava tanto teórica quanto pessoalmente. E perdoem-me aquelas que um dia julguei. Perdoem-me aquelas para as quais defendi a criação com apego sem problematizar a filiação teórica. Não é uma questão de relativizar e defender agora que cada um faz o que quer, que cada mãe faz o que acha certo ou algo do gênero. É entender que a problematização vai além do umbigo de cada um, porque esses umbigos estão ressoando vozes que são históricas, sociais. Fórmula mágica para criar filho não existe, mas existe a possibilidade de criar com amor, respeito e sem violência fora da criação com apego. Do lado de cá, vejo que minha função de mãe é oferecer ferramentas, possibilidades/alternativas de enfrentamento, respeitando esse ser humano que está ao meu lado. É contribuir para sua humanidade.

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UPDATE 29/09

Bom, depois de alguns feedbacks, algumas conversas interessantes, achei importante reiterar e/ou acrescentar três pontos, interligados entre si:

1) Muitas mulheres falaram da inspiração que tiveram quando leram sobre "Criação com Apego", do quanto para elas foi importante ver que existiam formas de criar os filhos que não eram violentas, que eram voltadas no desenvolvimento de vínculos positivos. Bom, de fato, talvez o principal ponto para a teoria tenha sido apontar caminhos diferentes, outras possibilidades...e acho isso massa! Mas, é importante ter em mente que criar com amor, respeito, carinho, de forma não violenta, NÃO É sinônimo de criação com apego. São coisas diferentes. Existem muitas perspectivas teóricas que abordam o desenvolvimento emocional/afetivo, psicológico, da personalidade, e não excluem o vínculo afetivo com os filhos. É possível criar sujeitos sadios fora da criação com apego. Não é a única alternativa do universo.

2) Outras mulheres - vejam que interessante, só mulheres! ha-ha (*suspiro profundo*) - trouxeram uma identificação pessoal e focaram nisso, seja positiva, seja negativamente; ou ligaram essa identificação pessoalmente a mim, à minha história, e talvez ao fato de ter sido eu quem tenha colocado esse peso todo (olhaí a culpabilização, gentem...). Vejam, isso é um risco muito grande. O argumento do texto foi entrelaçado com minhas vivências, mas o ponto de defesa aqui é justamente que NÃO nos foquemos nas singularidades. Singularidades são belíssimas, mas são muitas, sofrem muitas interferências pequenas, pessoais e intransferíveis, que podem apagar a verdadeira pauta e diluir a luta social e histórica na individualidade. Não podemos fazer isso. Assim como não podemos sair apontando o dedo, não podemos focar na NOSSA vivência pessoal, mas em toda uma estrutura que permite o surgimento disso. Focar a luta em uma pessoa só faz com que o todo se dilua e não permita mudanças radicais.

3) O ponto acima também traz uma outra reflexão que eu coloquei por cima e quero deixar bem claro. Quando focamos em experiências pessoais vamos sempre para o lado da RELATIVIZAÇÃO e isso é péssimo para uma luta mais efetiva de emancipação feminina. Fulana tem a vida assim, assim e assado; Sicrana tem a vida assim, assim e assado; "ah, é relativo, cada um é cada um, cada um faz suas escolhas". Sim, de fato, cada um faz suas escolhas, mas as singularidades não podem ficar acima do todo, porque sairemos relativizando tudo e, novamente, apagando a verdadeira pauta. Não se pode diluir o todo nas singularidades, mas podemos analisar as singularidades a partir do todo, porque elas refletem pontos em comum que estão postos objetivamente na sociedade. Sendo assim, qualquer um pode mesmo se apropriar de qualquer teoria como quiser (noção relativista, foco na singularidade), mas isso não retira da produção teórica o que ela É, como ela se constituiu, o que ela produz objetivamente porque ela não é isenta, não foi produzida num vácuo social e histórico, ela NÃO é natural...

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Existem por aí textos super bacanas que problematizam com profundidade algumas dessas questões. Meu foco aqui foi a minha histórica entrelaçada com pressupostos epistemológicos, mas quem sabe depois retomo as questões...quem sabe!

Aqui um texto super bacana que aborda com mais profundidade as coisas que eu citei, muitos pontos nossos estão em comum e que acho que vale a leitura:  http://pretamaterna.blogspot.com.br/2015/09/os-usos-e-abusos-da-criacao-com-apego.html

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O francês do cotidiano

As pessoas já tinham me falado e elas tinham, de fato, razão: o problema não é o uso formal da língua, mas seu uso informal. Fazer uma compra é um desafio, especialmente quando se usa um vocabulário específico - que você, obviamente não domina - e os interlocutores não estão nem aí se você entende ou não. Eles falam rápido, bem rápido. Eu, às vezes, entendo alguns segundos depois, hahaha, mas nem sempre ainda dá tempo de manter a conversa. E é preciso assumir para você mesmo que é um estrangeiro e tem que fazer um esforço nessa direção.

Hoje presenciei uma situação bizarra: estava fazendo a pré-inscrição no L'Arc (o grupo de conversação que citei no post anterior) e tinha uma senhora russa que queria se inscrever. Mas, o grupo é de conversação, logo, subentende-se que você fale alguma coisa da língua, correto? Gente, o esforço hercúleo que a mulher do grupo fez para dizer a essa senhora que ela precisava antes fazer um curso, que ela precisava falar melhor, ela perdeu a paciência e disse que se a mulher quisesse sobreviver em Paris ia precisar falar muito melhor que aquilo. Que agonia! Os outros russos tentavam explicar, mas no fim eu fui embora e a mulher ainda estava plantada lá, achando que poderia fazer a inscrição. Triste, mas mostra que não é tão simples estar em outro país e achar que poderemos nos comunicar com facilidade em outra língua, com gestos ou seja lá o que for. 

E o cotidiano que nos ensina. Ensina o ritmo, os hábitos, as frases e palavras mais importantes... E eu ando fazendo uma lista mental do que eu notei em termos de língua e, para não perder, vou colocar aqui e ir atualizando à medida que for descobrindo.

Prendre un verre - a primeira vez que ouvi foi minha prima me perguntando se eu queria e minha resposta foi: un verre de quoi? Bom, é un verre de qualquer coisa. Utiliza-se para convidar para um drink, para tomar alguma coisa...

Pardon - utiliza-se para pedir licença. E ocasionalmente para pedir desculpas. Tipo, se você bate sem querer numa pessoa no metrô, você diz pardon; mas se você faz algo mais sério, sei lá, pisa no pé dela, as pessoas dizem desolé.

Ouais - uma variação do Oui que todo mundo usa. A pronúncia parece a onomatopeia do choro do bebê, acho estranho, mas já estou pegando.

Chercher le fils/la fille à l'école - é pegar a criança na escola. Aprendi isso no primeiro dia de aula porque eu parecia uma doida dizendo que queria prendre minha filha e a professora me olhava com cara de tacho.

Ça veut dire - significa um "ou seja" ou um "tipassim". Muito usado como "tipassim", hahaha.

Bonne journée/ Bonne soirée - é o cumprimento que você dá quando sai de algum canto, é desejar um bom dia e uma boa tarde/fim de tarde na partida. Se você chegar em um lugar às 17h você diz: Bonsoir. Quando for embora você diz Bonne soirée. Bonne nuit só se diz quando vai dormir. 

Entendre - para nós pode parecer que é entender, mas significa "escutar, ouvir". Então, se alguém perguntar: tu m'entends? ele quer saber se você tá escutando, não se você está entendendo.

Ouh la la! - essa é a interjeição mais engraçada de todos os tempos, mas todo mundo usa e você acaba se adaptando a ela. Pode ser usada em várias situações, como um "nossa", um "putz", ou até mesmo um "carai"(no modo que usamos na PB).

D'accord - essa, depois do Oui, é a mais usada. Você usa para dizer um "tá certo", um "ok" se for em forma de pergunta. Se alguém está te explicando algo você diz "d'accord"; se você marca com um amigo para sair tal hora, você diz "d'accord?". Literalmente é "de acordo", mas convenhamos que essa tradução é fraca para o sentido. Se usa tanto isso que Liv brinca de falar ao telefone e fica dizendo: "oui, oui, d'accord".

Chacun à son tour! - um de cada vez. Isso é muito útil no parquinho. Além disso, é útil "attend!" (espera!), "Arrête!", "Vas-y". Crianças brincando precisam saber desses comandos. Liv aprendeu rapidinho porque precisava minimamente se fazer entender.

N'importe qu... - eles usam para dizer algo como "qualquer coisa", tipo, "Fulano dit n'importe quoi!", ele diz qualquer coisa, como se fosse sem pensar. Já vi também sendo usado no sentido de "eu não sou qualquer uma" (je ne suis pas n'importe qui).

Donc e du coup - usado como marcador de continuidade - então, logo. Eles usam muito MESMO.

E a galera tem um mau hábito de falar "ahhhnnn, ahhnnn, ahhhnnn" entre uma ideia e outra. Bom, eu adoro isso porque uso para raciocinar :P

E tem uma entonação sempre no final das ideias o que torna as frases peculiares, como se tivessem saído de um musical infantil. O bonjour de muita gente parece que vem de uma animação Disney, a primeira vez que ouvi achei que a pessoa era super simpática, mas depois percebi que era hábito mesmo.

Prossigamos.

sábado, 12 de setembro de 2015

Curso de francês na Sorbonne

Antes de vir eu tinha a intenção de fazer um curso de francês por aqui. Tinha pesquisado a Aliança Francesa e o curso famoso da Sorbonne. Por conta da carga horária mais pesada, com cursos de no mínimo 12h semanais, tinha descartado a Sorbonne e ia fazer um curso extensivo na Aliança, mas, com menos horas semanais. Cheguei até a entrar em contato com eles, já estava quase certa. Entretanto, quando cheguei aqui, minha prima disse que o curso da Aliança era muito fraco, que era melhor a Sorbonne, que ela tinha feito os dois. Decidi, então, fazer um curso de verão, por um mês, com 10 horas semanais de gramática e 5h de fonética durante três semanas (630€), antes das minhas aulas iniciarem efetivamente.

Já frequentei duas semanas do curso e vou dizer o que eu senti sobre ele:

CONTRAS:
  • Achei o horário péssimo, porque eu tenho 3h de aula por dia num horário que me faz perder meu dia. Das 10h às 11h tenho aula de Fonética e das 11h às 13h tenho a aula de gramática. Chego em casa em torno de 13h30, almoço e em torno de 14h vou fazer o que preciso fazer. Acontece que às 16h preciso sair para pegar Liv na escola e, sendo assim, acabo tendo pouco tempo útil para estudar e fazer as coisas de casa, organizar a vida. E as aulas são todos os dias, né? Complica bastante para quem tem mais afazeres. Mas, isso é muito pessoal, próprio da minha rotina, não é aplicável a todos. 
  • As aulas não focam muito na parte da expressão oral e isso me incomoda. Acho que o nosso principal problema quando chegamos - para quem já tem um certo nível de francês - é aliar a nossa expressão oral com os conhecimentos gramaticais. Não sei se isso é próprio da professora que pegamos, mas sinto falta de falar - ou tentar falar - mais. Esses dias ela pediu que apresentássemos um texto, o autor, mas acabou falando mais do que a gente, não nos dava muito espaço para refletir e tentarmos nos expressar.
  • A aula de fonética tem uma parte que trabalha com repetição de frases, que exigem a sua compreensão e a pronúncia adequada. Até aí, tudo bem. Mas eu tenho um problema de memória, hahaha, e isso me dá muita raiva! Porque a professora fala a frase, eu entendo o que ela disse, mas já esqueço as palavras exatas que ela usou para poder repetir. 
  • O sotaque da galera e a dificuldade de expressão dos colegas às vezes incomoda, parece que me faz regredir um pouco.

PRÓS:
  • Eu sou bem do tipo nerd e as aulas de fonética são fantásticas porque a professora explica tudo teoricamente, como se pronuncia, o porquê, posicionamento da língua, lábios, abertura da boca...isso é bem bacana!
  • A parte da repetição das frases, apesar do contra que citei, é interessante porque mostra exatamente onde a gente erra. A gente escuta o professor e nos escuta, fazendo com que aos poucos possamos ir nos aproximando da pronúncia mais correta. E dá um nó no juízo e não é fácil.
  • Os professores são muito capacitados, são pessoas experientes, com conhecimento geral a oferecer e isso é muito bom quando estamos chegando em um país.
  • O teste de nível é bem real porque na minha sala a variação de conhecimentos é pequena. Isso é ruim por um lado, porque penso que os desníveis podem ajudar a puxar a aprendizagem, mas os que existem são bacanas. Todos os alunos são adultos, dedicados, peguei uma turma muito boa, estudiosa.
  • As turmas são pequenas, dá pra trabalhar bem, todos são chamados a participar, o que é muito bom.
  • As aulas, só por serem totalmente em francês, já ajudam. São 3h ouvindo franceses dando aula, alguma coisa sai daí! É um baita progresso entender a aula toda sem se perder. Tô bem satisfeita!
No geral, eu recomendo o curso. Acho corrido, mas se eu pudesse passar uma temporada mais longa estudando exclusivamente francês, faria um curso de 4 meses com 15-20 horas semanais. Quem puder fazer, faça!

Para saber mais:

Depois, pretendo praticar conversação um grupo chamado L'Arc, que você paga 10€ por ano e conversar com franceses voluntários, que corrigem suas falas. Geralmente pessoas aposentadas, deve ser bacana! As inscrições ainda não começaram, mas vou fazer. Depois conto como foi. Essa dica foi de um amigo! Informações: http://www.arc-cercle-international.com/

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Primeiros dias na escola

A "rentrée scolaire" aconteceu no dia 02 de setembro, uma quarta-feira. Bom, não sei se tinha dito antes, mas nas quartas as crianças só tem aula de manhã. De qualquer forma, o diretor havia me dito que nos primeiros dias era melhor deixar a criança apenas de manhã e avaliar a adaptação de cada uma. Ele nos disse que a gente deveria deixar a Liv as 8h50 e tínhamos até às 9h para nos despedirmos, ficar com ela e falar com a professora. Uau, 10 minutos, hein? Pois bem, na quarta-feira chegamos umas 8h45 e tivemos que ficar esperando abrirem a porta, hahaha, porque ela só se abre efetivamente às 8h50. 

Às 8h50 entramos, falei com a professora, expliquei que Liv não falava francês, mas ela disse que não tinha problema. Liv me deu tchau bem de boa, ao passo que outras crianças choravam, estavam agarradas nos pais. Acho que isso aconteceu porque ela já tinha vivenciado escola antes, enquanto a maioria das crianças lá está entrando pela primeira vez. Voilà, ponto para mim! :P Na saída ainda falei rapidinho com a assistente de sala, preocupada com as idas ao banheiro e a língua, mas ela disse que eles incentivam a ir de tempo em tempo e que eu não me preocupasse que qualquer coisa elas gesticulavam e se entendiam, rsrs. E eu saí chorando da escola, com o coração apertadinho, um medo imenso dela não dar conta...mas, minha pequena-adulta, super corajosa e desenrolada ficou super bem. Contou-me que cantou, gritou com um menino, ouviu historinha sobre um chien, parece que tudo foi bem tranquilo.

No outro dia ela já acordou menos preguiçosa e tudo correu bem também. A professora disse que ela estava bem, que não tinha nada para dizer, que não teve nenhum acidente de pipi, tudo uma maravilha! Por isso, a partir da próxima semana já vamos testar o período integral. Dia 11 teremos uma reunião de pais, eles vão nos passar o programa, agora é pra valer! A professora dela é uma pessoa acessível, tranquila, mas pareceu mais séria; já a assistente de sala é super sorridente, simpática, carinhosa...minha filha está em boas mãos :)

Coisas a se notar:

1) Eles entram às 9h e não tem lanche antes do almoço. Eu, preocupada que sou, coloquei uns biscoitos dentro da bolsa e disse pra Liv que se desse fome ela fosse comer. Ela reclamou que não pôde comer, que a professora disse que não podia e tal. Eu já sabia disso, mas sou mãe né, dá sempre um medinho da cria passar fome.

2) A Liv parece entender algumas coisas em francês. Ela se diverte quando converso com ela em francês e inventou um dialeto que ela pensa que é francês, que todos entendem, e tenta se comunicar assim. É engraçadinho e eu não tolho, porque isso a estimula a tentar. Já percebo que no meio das enrolações saem algumas palavras que existem, hahaha, e isso não parece ser um problema para ela. 

3) Foi boa a ideia de ler em francês, de mostrar musiquinhas do folclore local durante um tempo antes de vir, pois ela identificou uma música no primeiro dia de aula. Disse para mim que era uma música que a gente já tinha escutado e cantou. Era a famosa "Frère Jacques".

4) Tem muitos papeis para preencher. Eles entregam um caderninho com informações iniciais, tipo a agenda que a gente usa no Brasil, e a gente precisa ler e assinar. Dentre esses documentos tem uma paranoia mucho loka com a saúde. Pedem autorização para transferir com ambulância em caso de necessidade, pra fazer intervenção cirúrgica em caso de urgência, esse tipo de coisa. Mas isso não é novidade, os franceses adoram preencher papeis. E enviar papeis. E pedir papeis.

5) A mochila fica na escola. Só volta para casa em caso de acidentes de pipi. Não sei se isso é uma regra geral, mas acho que vou precisar trocar as roupas que deixei lá porque o frio está chegando... 

Prossigamos.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Saudade?

Estamos há quase um mês em terras distantes. Começo a perceber que a ficha da Liv está caindo e ela está percebendo que não vai ver as pessoas com as quais ela estava acostumada. Começou a fazer muitas perguntas sobre as pessoas, a perguntar quando elas chegam, e eu respondo dizendo que vai demorar ainda. Essa semana ela pediu para conversar com o pai dela e com os avós, coisa que ainda não tinha feito. Ao menos as questões apareceram justamente há poucos dias do início das aulas. Amanhã vamos conhecer a escola e vou conversar com o diretor, saber de forma mais detalhada sobre a rotina e sobre o processo de adaptação.

Pois bem, isso me fez refletir um pouco sobre esse negócio de saudade. Sempre que uma pessoa sai de casa para outro lugar é costume dos outros questionarem sobre ela estar sentindo saudade. E, convenhamos, isso nos deixa em uma saia justa dos infernos. E eu fico cá pra mim: será que sou insensível!? Comecei, então, a pensar... as pessoas que ficam devem viver as suas vidas da mesma forma, nos mesmos lugares, de forma que a ausência de quem sai é mais sentida, porque a pessoa costumava fazer parte daquele espaço. Quem sai, por outro lado, vai para um lugar completamente diferente, uma rotina que já é construída na ausência das pessoas. Há um grande investimento de energia para constituir essa rotina, muitas coisas para aprender, entender, de modo que essa saudade não aparece assim tão rápido. E, convenhamos, não é algo tão saudável também de incentivar.

Se eu sinto saudade? Por enquanto, não. Pode soar insensível da minha parte, mas me preparei tanto para este momento, desejei tanto fazer isso, que tenho certeza que os amigos e familiares estarão lá quando voltar e nada vai ser diferente, continuaremos gostando uns dos outros e ficaremos felizes em compartilhar momentos. Não é bacana ficar mastigando a ausência e muito menos bacana querer que os outros sintam sua ausência...parece-me, até, um tanto egoísta achar-se essencial para a vida do outro. Eu não sou essencial na vida de ninguém e nem quero ser! A felicidade dos outros não pode depender de eu estar presente (fisicamente) ou não, e a minha também não deve depender disso. Agora, mais do que nunca, tenho entendido que a vida é feita de encontros mesmo...somos felizes quando eles acontecem, mas também podemos ser felizes quando eles não acontecem. É assim que tem que ser.

O carinho, o cuidado, a preocupação com o bem-estar, o amor, eles permanecem na distância. Por isso desejo que quem ficou esteja feliz e busque ser feliz; nós, do lado de cá, estamos buscando a nossa felicidade. E, podem ter certeza, quando rola encontro entre pessoas felizes, é muito mais gostoso :)

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Primeiras impressões

Algumas pessoas me perguntaram algumas impressões iniciais, mas, como não é a nossa primeira vez na cidade, já conhecia algumas coisas. De qualquer forma, seguem algumas coisas interessantes, diferentes, ou apenas dignas de se notar.

1) quando iniciei o processo para fazer o pós-doc todo mundo falava no meu dossiê. Eu precisava ter um. No meu mundinho de Bob eu ficava imaginando uma investigação aprofundada, quase uma investigação policial, porque não costumamos usar esse termo no Brasil, né? Pois bem, um dossiê é apenas a junção dos seus documentos. Se for alugar um apartamento, precisa de um "dossiê" com contracheque, fiador, por exemplo. Se for fazer um pós-doutorado, seu dossiê precisa conter currículo, projeto de pesquisa, cartas de recomendação...

2) Aqui os carros estacionam metade na rua, metade na calçada. Ok, fazemos isso no Brasil também. A diferença é que aqui é permitido e, inclusive, as linhas do estacionamento são pintadas parte na rua, parte na calçada.

3) Existem muitos parquinhos pela cidade. MUITOS mesmo. Todos adaptados para idade, com chão emborrachado (ou areia, por exemplo), bem cuidados, feitos de modo que as crianças não se machuquem.

4) As crianças brincam muito nos parques. Adolescentes também. Vi várias meninas e meninos, de 14-15 anos, brincando de pega-pega. Há tempo que não via isso!

5) Muitos pais levam seus filhos ao parquinho ou simplesmente saem com eles. A mãe não é a única figura na pracinha.

6) Tem criança mal educada em todo canto. E, sim, elas também "fazem manha".

7) Tudo precisa de um rendez-vous [reunião com hora marcada]. Não adianta aparecer no banco sem marcar um. Nem adianta ir falar com seu professor sem ter marcado. A primeira pergunta que vão fazer é se você tem um. E, quando não precisa marcar hora, faz parte da propaganda: "sans rendez-vous!" como se fosse algo excepcional.

8) Segundas-feiras as coisas fecham. Não me perguntem o porquê.

9) Férias são férias. Então, se os funcionários de uma farmácia estão em férias, eles simplesmente fecham as portas e deixam um aviso dizendo que estão em férias e que voltam a abrir no dia tal. Mesma coisa para hora do almoço. Fechou está fechado, nada de "mais um minutinho".

10) Verão é algo fantástico. Todo mundo está em férias, todo mundo está viajando, vários estabelecimentos estarão fechados por isso.

11) Nada abre antes das 9h. E tudo fecha ao meio-dia. Ou perto disso. [sim, isso é uma generalização!]

12) As pessoas fazem compras na velocidade da luz. Não consegui entender ainda como eles conseguem guardar todas as compras e pagar tudo tão rápido! Desconfio que eles jogam tudo dentro do carrinho, misturando sabão com comida e amassando as frutas e legumes, ou quebrando alguns ovos.

13) O pão é um objeto. A baguete é imensa e o pacote apenas cobre metade dela. Ninguém se importa em andar com elas expostas dentro do metrô ou embaixo do braço.

14) Aqui também tem suvaqueira no transporte público.

15) Mesmo num calor de 30 graus nem todos os estabelecimentos têm (ou ligam) o ar-condicionado. O ônibus que andamos tinha apenas uma aberturinha lá em cima, nada de amplas janelas. E ninguém reclama muito do calor.

16) Ainda sobre o calor...mesmo o sol rachando, as pessoas ficam embaixo do sol. Elas optam (mesmo, não é por falta de mesa) por sentar em mesas que estão no sol em um restaurante. Ao meio-dia.

17) O sol daqui não queima. Criamos algumas hipóteses, mas ainda não sei exatamente o que acontece. Só sei que se eu tomasse na PB a mesma quantidade de sol que tomei aqui, nos mesmos horários, teria ficado, no mínimo, vermelha.

18) Mesmo para eles eu sou muito branca! hahahahaha

19) A gente aprende a pedir licença dizendo "excusez-moi", mas eles usam mesmo é o "pardon".

20) O transporte público é maravilhoso e todo mundo usa, mesmo cheios de malas gigantes. Táxi não é um item muito valorizado.

21) Usa-se muito o carrinho para carregar crianças, mesmo que elas tenham 5 anos. Se não tá no carrinho, tá numa bicicleta ou numa patinete.

22) As poucas piadas que fizeram comigo ou não entendi ou achei muito sem graça :P

23) Tem muita gente de outros lugares. Muitas mesmo. E, nem todo mundo gosta disso.

24) E, por fim, o ponto que pode ser mais controverso disso tudo. Percebi que os negros aqui não baixam a cabeça - apesar de sofrerem muito preconceito - e valorizam demais as suas raízes. Acredito que isso faz com que muitos deles estejam sempre na defensiva - especialmente se uma branca (euzinha!) vai falar com eles - e, por este mesmo motivo, são taxados de mal educados. Em geral, sempre que notaram que eu era estrangeira, baixaram a guarda. Ainda não sei se a encrenca com eles é mais xenofobia ou racismo mesmo. Cenas para os próximos capítulos.

É isso.
A bizarrice dos carros na calçada
 *** Atualização:

25) As pessoas aqui fumam muito e tomam muito café. E não tem isso de deixar de fumar porque tem uma criança perto, só deixam de fumar em lugares que é expressamente proibido.

Processo para implementação da bolsa


Como eu disse no post sobre as bolsas, os status da capes são um mistério indecifrável. Além disso, como estava de viagem marcada, estava bem preocupada com a implementação da bolsa porque queria sair do país com tudo resolvido. Não deu né, mas tudo bem, no fim tudo terminou dando certo. Mas, vamos às datas.

18/06 (quinta-feira) – resultado em uma lista com todos os aprovados. Depois do resultado, o acompanhamento do processo dizia: Processo em análise. Favor aguardar decisão final e comunicação da CAPES.

22/06 (segunda-feira) – recebi o e-mail de deferimento, avisando oficialmente que tinha sido aprovada. Agora, constava o seguinte: Processo deferido, aguardando documentação para implementação. Aguarde comunicação da CAPES.
04/07 (sábado) – recebi a carta de concessão (em português e francês, em duas vias, uma delas para apresentar no meu trabalho para pedir o afastamento) e o termo de compromisso pelos correios. O termo de compromisso eu assinei, digitalizei e coloquei na plataforma, além de enviar uma via pelos correios de volta para a CAPES.

15/07 - Meu status mudou, creio que porque receberam o termo de compromisso: Processo aguardando implementação.

21/07 - Recebi o cartão BB Américas no endereço do exterior (apesar de ter pedido para receber no BR). Mas, tudo bem, minha prima recebeu para mim.

06/08 - Somente em agosto meu status mudou de novo para, finalmente: Bolsa Implementada e processo migrado para nova plataforma, aguarde contato da CAPES.

11/08 - Já na nova plataforma, aceitei um novo termo de compromisso e processo ficou "em trâmite no financeiro". Anexei, também, a documentação para comprovar que estava no exterior. No outro dia eles já aprovaram meus documentos e aceitaram a comprovação de que estava no exterior. Detalhe: o seguro-saúde precisa estar acompanhado do recibo dizendo quanto você pagou por ele, além da apólice.

 14/08 - O processo constava como "enviado ao banco".


15/08 - $$$ na conta!

Depois de implementado o processo tudo foi muito rápido! Acho que em anos normais, sem tantos problemas como este, o processo é mais rápido do que esse meu. O pessoal do CNPq teve tudo implementado em menos de um mês! Não entendo o porquê da CAPES ser mais enrolada... =/

Bom, dinheiro na conta e muito dinheiro perdido na conversão, em iof...Também não sei porque essa invenção de pagar as três primeiras mensalidades na conta brasileira. O CNPq, por exemplo, paga apenas os auxílios no Brasil e o resto no cartão BB Américas...mas, a CAPES, além dos auxílios, as três primeiras mensalidades entram na nossa conta brasileira mesmo. Uma pena! Poderíamos ser isentos do IOF, né? :(

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Passeando por aí...

É bem difícil parar para escrever nessa correria toda. Acredito que só com as aulas começando que vamos nos ater a uma rotina mais regrada, mas é muito difícil não ficar doido para aproveitar tudo de uma vez só. Paris, apesar de conhecida como destino romântico, é muito familiar. Para quem vem rapidinho, sem filhos, uma outra face da cidade fica escondida. São vários parquinhos espalhados pela cidade, com brinquedos separados por idades, chão emborrachado, de modo que se gasta bem pouco (ou nada!) em passeios com as crianças. E estamos no verão, né! Todo mundo sai da toca, os parques sempre com muita vida, um longo dia (que termina depois das 21h) para aproveitar. O negócio é tão interessante que ainda nem fui na parte mais turística de Paris, rsrsrs...devo ir essa semana, tem um parquinho instalado no Jardin de Tuileries e as Paris Plages que devem ser, no mínimo, interessantes. Além disso, quero levar Liv na Torre de novo, porque sempre que ela vê uma torre diz que é "o Paris" :)

Fora os inúmeros parquinhos espalhados pela cidade, segue a lista do que fizemos essa semana:

1) Jardin d'Acclimatation

Linha 1 (amarela) - Estação "Les Sablons" ou Estação "Porte Maillot" (opte por essa segunda se preferir chegar no parque através de um trenzinho).

O lugar é imenso, lindo, cheio de brinquedos. Tem uma parte de brinquedos estilo "parque de diversões", com atrações pagas e que exigem, na maioria das vezes, que a criança tenha mais de 90cm. Mas, se não quiser pagar brinquedos, existem vários outros espalhados pelo parque. Tem também alguns animais soltos, outros presos, apesar de não ser exatamente um zoológico. Já conhecia o parque, mas ele é tão legal que fomos de novo este ano e, provavelmente, iremos mais algumas vezes :P





Nessa região ficam fontes jorrando água no verão :)

2) Château de Vincennes e Parc Floral

Linha 1 (amarela) - Estação "Château de Vincennes"

Ainda não conhecia. O castelo é bem característico, com um fosso, torre, sinos, tanto que Liv falava o tempo todo que ia encontrar a princesa. Para visitar a catedral e o donjon precisa pagar. Mas, para só andar por lá, não precisa pagar nada. Achei que o passeio seria mais legal, mas foi fraco... Liv curtiu subir as escadas, ir até o sino, mas confesso que não achei grande coisa.

 Catedral logo ali na frente


Lá está o donjon.



O melhor veio depois. Fomos ao Parc Floral, que fica ali perto (atrás do castelo, mas tem que ir por fora) na Bois de Vincennes. Que lugar lindo! Além de brinquedos, tem teatro, animais, muitas plantas, um viveiro (?) de borboletas...há a possibilidade de alugar bicicleta familiar e andar pelo parque. Como chegamos relativamente tarde, ainda ficou muita coisa para explorarmos por lá. Mas, como gostei muito e não é longe de onde estou morando, devo voltar em breve. Vale MUITO a pena! 




Depois do passeio eu comi, finalmente, um confit de canard. Estava uma delícia!



Essa semana fomos também ao Mercado de Pulgas (marché aux puces) de Saint Ouen. Uma 25 de março parisiense, rsrsrs, sem glamour nenhum. Não tirei foto, mas comprei roupas por €10, então tá valendo! Para quem curte antiguidades também o lugar é super interessante. Só aviso que é uma parte bem diferente de Paris, cheia de camelôs, não é todo mundo que tem paciência para esse tipo de passeio. Chegamos pela linha 4 (rosa? roxa? rsrs), estação "Porte de Clignancourt". 

Fui também ao cinema com a minha prima. O filme era americano com legendas em francês (óbvio!) e eu consegui entender tudo. Não sei se entendi por causa do inglês ou do francês, mas o importante foi ter entendido. Antes do filme tomamos uma cerveja (€5,50 250ml) em um lugar que é tipo um shopping aberto, em Bercy. Já conhecia o lugar e acho que vale muito a pena uma visita :)

Estamos aproveitando bastante o verão e agora mais ainda que estamos mais adaptadas às 5h de diferença do Brasil. Quem for um dia passear por Paris com crianças não pode deixar de ir neste blog: http://www.parisdespetits.com.br/

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Matrícula na escola

Hoje fomos na mairie (prefeitura) de Maisons-Alfort, onde estamos efetivamente morando (fica na grande Paris), para fazer a matrícula da Liv na École Maternelle. Na França, todas as crianças no ano em que completam 03 anos (em 2015, todas as crianças que nasceram em 2012) tem direito à escola pública, mesmo as estrangeiras. Os procedimentos foram simples. Basicamente é necessário levar o que eles chamam de "livret de famille", que, no meu caso, foi a certidão de nascimento dela com tradução juramentada; um atestado de saúde comprovando que ela foi vacinada para DT Polio (tradução juramentada) e comprovantes de residência. Este último documento pareceu ser o que eles mais encrencavam, visto que apenas as pessoas residentes mesmo naquela cidade podem usufruir do sistema educacional (para evitar que pessoas de outras cidades ou bairros tirem as vagas dos residentes). Como estou dividindo apartamento com a minha prima, precisei levar cópia do aluguel dela, da conta de luz e, também, comprovantes da minha parte que estava morando lá (levei um comprovante de conta bancária, que também abri hoje, e é possível levar alguma correspondência que tenha recebido em seu nome).

Lá, no mesmo espaço, preciso comprovar que não estarei à toa (hahahaha - leia-se: estudando ou trabalhando) para que ela também usufrua da cantina da escola. Os pais que estão à toa precisam buscar as crianças para almoçar e depois deixar na escola de novo no período da tarde. A conta da cantina chega a cada 2 meses na sua residência e você pode pagar como preferir. Ela pagará 2,51 euros cada dia (o que deve dar em torno de 40 euros por mês). Na quarta-feira a tarde eles não tem aula. Por isso, os pais que possuem compromisso (trabalho, estudo ou sei lá mais o quê) podem deixar a criança no "centre de loisirs", na própria escola (uma espécie de colônia...eles passeiam, nadam, brincam), pagando uma taxa de 13,81 euros cada vez que a criança precisar ficar no período da tarde. Toda quarta-feira é preciso avisar se a criança vai ficar.

As aulas começam as 9h da manhã. Se você precisar deixar a criança entre 8-9h ela pode ser recebida gratuitamente. Caso precise deixá-la antes disso, precisa cadastrar no "pré-accueil", de 7h30 às 8h e paga uma taxa de 0,86 euros cada vez que ela ficar. A aula termina às 16h. Se você não pode buscar essa hora, pode cadastrar no "post-accueil" também pagando a mesma taxa cada vez que ela ficar. O cadastro é feito na própria escola e como ainda não sei meus horários, não sei também se vou precisar desse serviço. 

Quando as aulas começarem conto melhor a experiência, por enquanto, tenho que esperar. Eles estão em férias e retornam apenas alguns dias antes do início das aulas. E, como tudo por aqui se resume a um lindo parquinho, segue a petite no parquinho que tinha dentro da mairie, onde ela fez uma "amiguinha que fala francês" =)



terça-feira, 4 de agosto de 2015

As primeiras interações...

Chegamos em um dia bem "friozinho", com nada mais que 34graus. Foram horas dentro de um avião, mas classifico a viagem como tranquila. Dormimos quase todo o percurso e o restante do tempo foi usado com entretenimento de bordo e comida. Mas, obviamente que Liv estava super agitada, preocupada com "os brinquedos de Paris", precisava liberar as energias. Chegamos em casa, comemos alguma coisa, e saí com ela para um dos muitos parquinhos por aqui. Depois de muito brincar sozinha, chegaram três crianças e ela veio sentar ao meu lado, parecia estar com vergonha.

Expliquei que as crianças falavam francês e ela: "ah, mas eu sei falar francês" e começou a dizer as poucas palavras e músicas que conhece. Ainda assim, não quis interagir com as crianças. Não forcei. Uma menininha de 4 anos veio falar com ela. Expliquei para a menina que ela estava envergonhada, que não conseguia falar francês. Liv falou alguma coisa e a menina: "ah, mais elle parle!" [ah, mas ela fala!]. Sorri e disse que ela falava, mas falava apenas português. Conversa vai, conversa vem, um menininho veio oferecer a ela umas plantinhas, dizendo que era uma fleur. Liv sorriu, foi  buscar plantinhas e entregou a ele, sem dizer nada. Estabeleceu-se a primeira conexão. Depois disso, escorregaram juntos e ela pediu para ir embora. E assim foi a primeira interação...

No geral, rolam alguns bonjour da parte dela e de vez em quando um ça va. Já aprendeu que tem trois ans e, por enquanto, não apresentou resistência à língua. Prossigamos!

sábado, 1 de agosto de 2015

As malas

Quando a bolsa saiu foi embora a preocupação financeira maior. Isso alivia um monte de coisas, inclusive, o peso de arrumar as malas, porque qualquer coisa que eu posso esquecer pode ser facilmente adquirida no lugar pra onde vou. Basicamente vou levar uma mochila super pequena de mão (para coisas com acesso imediato, tipo lencinhos umedecidos); uma mala pequena de mão (acesso fácil, mas não imediato); duas malas grandes e um carrinho. O carrinho é seu aliado (repita isso 20x).

Bom, como não estou muito preocupada com as malas grandes, foquei toda minha preocupação nas malas de mão. É importante lembrar que estarei com uma criança de 3 anos durante 12h em um avião e nada pode faltar neste intervalo. Da última vez que viajamos ela estava doentinha, passou mal a viagem inteira, usou todas as roupas extras dela e eu estava sem nenhuma roupa extra. Fiquei fedendo a vômito até chegar. Além disso, tem os eletrônicos que não tenho coragem de despachar...como computador, HD externo, máquina fotográfica. 

Levarei, então, na mochila super pequena:
- notebook e HD;
- documentos e dinheiro;
- tablet;
- celular;
- uma calcinha para Liv;
- uma calça mais quentinha e um casaquinho (eventualidade, porque será verão na saída e na chegada);
- lencinhos umedecidos (também é aliado!);
- um livro;
- óculos escuros.

Na mala de mão:
- pasta com documentos extras (nunca se sabe!);
- mais mudas de roupas (para Liv E para mim);
- lanchinhos;
- carregadores;
- máquina fotográfica;
- remédios básicos;
- brinquedos.

Nas duas malas grandes estou levando roupas de frio e nossas roupas de verão. Não vou levar todos os calçados e nem todas as roupas... Uma frasqueira apenas com o básico para sobreviver um dia, porque assim que chegar vou ao supermercado comprar. Levo apenas duas toalhas para cada uma de nós e comprarei mais se for necessário. Levo também feijão preto, cuscuz e tapioca (hahaha), porque preciso ser precavida com os gostos peculiares da minha paraibana (ao menos até nos organizarmos). Pareceu de bom tom levar um petit cadeau para as duas secretárias que aguentaram todos os meus telefonemas e e-mails. Levo um também para o professor. Os presentes são da região, para garantir que vai agradar :P Não vai nada de especial além do estritamente necessário. 

Depois disso tudo, o resultado que tenho é esse:

Para um período de um ano o volume parece bem razoável, né? :P


Au revoir!

domingo, 26 de julho de 2015

A novela do visto francês - Pt. Final

Depois de idas e vindas, finalmente no dia 02 de julho a convention d'accueil chegou de volta no CNAM. Eu que não sou boba, pedi uma cópia digitalizada e no dia 03 eles postaram meu documento pelo chronopost. Estava feliz e contente pensando que se o documento não chegasse a tempo de cumprir meu agendamento dia 09, eu simplesmente remarcaria. Eis, então, que um colega das agonias francesas me informa que ele só conseguiu agendamento para 20 de agosto! Corri no site do consulado para simular uma mudança de data e constatei que eles não tinham mesmo mais nenhuma data disponível em nenhum dos consulados. Pronto, entrei em pânico.

Enviei um e-mail para a chefe de vistos do consulado em Brasília e ela me disse que eu não precisava remarcar, que poderia ir apenas com a cópia (aleluia!!!) do documento. Agradeci por ter sido precavida em pedir a tal cópia digitalizada...seguro morreu de velho! :P Somente dia 14 de julho o documento chegou em casa (11 dias depois de ser postado em Paris). Ou seja: quatro meses depois do meu primeiro contato solicitando a convention, recebo finalmente em casa.

Fui ao meu agendamento dia 09 de julho, fui atendida no horário, muito bem atendida, por sinal. Entreguei os originais para conferir e as cópias ficaram com eles. O passaporte também é retido e enviado posteriormente pelos correios. Sobre a convention d'accueil, eles ficaram com a cópia e pediram que eu levasse a original em um consulado ou embaixada mais perto apenas para carimbar. No meu caso, Recife fica mais perto e é lá que vou. Liguei na embaixada depois de receber o documento, mas disseram que é preciso aguardar o visto chegar para levar o visto e a convention para ser carimbada.

Dia 23 de julho pela manhã (14 dias depois) recebi os meus vistos pelos correios. Liguei no consulado e dia 29 de julho vou carimbar a tal da "convention d'accueil" para viajar dia 02 de agosto. Tudo nos 45' do segundo tempo. Mas, ao menos tudo correu bem.

De acordo com o consulado, quando chegar em Paris devo ir validar o meu visto no OFII (Office Français de l'Immigration et de l'Intégration), levando o documento que eles me entregaram no dia do rendez-vous preenchido. Segue um e-mail que foi compartilhado comigo falando dos dois tipos de vistos que podem ser dados quando você solicita um visa "scientifique chercheur":

2 types de visa sont délivrés par les services consulaires :

            - le visa scientifique d’une validité de 3 mois

            - le VLS-TS ou le Visa Long Séjour valant Titre de Séjour

Si vous obtenez un visa scientifique de 3 mois, vous devrez faire une demande de carte de séjour (Baixe aqui os documentos necessários).

Si vous obtenez un VLSTS vous n’aurez pas besoin de faire une demande de carte de séjour scientifique; en revanche vous devrez faire « valider » votre visa par l’OFII dans les trois mois suivant votre date d’arrivée en France.  Vous devrez envoyer une demande de visite médicale à l’OFII, la feuille de demande avec les coordonnés de l’OFII vous sera remis à l’ambassade. 

Après avoir pris rendez-vous à  l'OFII, une vignette valant titre de séjour est apposée dans votre passeport, cette dernière étape valide votre VLS-TS. Vous devrez vous acquitter d'une taxe d’environ 260 € prévue dans le cadre de la validation du VLSTS.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

TPV - Tensão pré-viagem

Faltam exatamente 15 dias para o embarque. Agora já assumi que falta esse tempo, é com ele que vou trabalhar. E de repente começo a "amarelar". Claro e obviamente que não vou amarelar, mas tem horas que toda a empolgação e a ansiedade por viver coisas diferentes somem e dão lugar a questionamentos. Medos e receios. Nessas horas eu foco na mala, nas coisas que preciso levar, nas coisas que preciso fazer, mas parece inevitável sentir essas coisas. São sentimentos que às vezes aparecem travestidos de "medo de não dar conta", "medo de travar na língua", "medo de ser muito difícil", mas que só eu sei o que eles realmente são. 

Quem me conhece bem sabe que tenho muita dificuldade em lidar com grandes mudanças. Eu me preparei para este momento, mas talvez não tenha me preparado para o que ele significa pessoalmente. Quebras que eu relutei em fazer; caminhos novos que relutei em seguir; aceitações (necessárias) que não consegui atingir. E isso tudo parece que vai acontecer ao mesmo tempo. A vida está caminhando nesse rumo. E tem horas que eu tento pará-la, naquela vã necessidade de dar mais uma chance ao caminho que já se apagou, não existe mais. Mas o mundo parece estar resoluto. Ele segue me dizendo (over and over) que é preciso seguir e deixar o rio correr...e, às vezes, simplesmente deixar correr, desapegar (da gente mesmo), não se esforçar, é o mais difícil de fazer. Estou certa que assim farei. Vai ser um tempo para moi. Para reencontrar moi-même.

É preciso compreender radicalmente que muitas travas são colocadas por nós mesmos. E, quando é assim, cabe apenas a nós mesmos retirá-las. Cá estou eu, então, retirando-as. Vestindo-me de coragem e força para travar mais essa luta. Perdi uma batalha, mas a guerra ainda não está perdida. 

E que venham os quinze jours avant le voyage. Allons!

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Inserindo a pequena no francês

Uma dúvida muito grande que eu tinha em relação a levar uma criança para passar um tempo no exterior era a questão da língua. Preocupava-me (preocupo-me) com a inserção na escola, em especial, visto que ela será um ambiente obrigatório para eu poder estudar. A primeira coisa que fiz foi matriculá-la em uma escola no Brasil, pois não queria que a primeira experiência dela fosse em outro país, outra língua, não queria exigir demais da pequena. Mas, ficava a questão, será que eu devo falar em francês com ela? Pesquisei, perguntei a quem passou pelo mesmo, e todos diziam que antes de estar no país a outra língua não fazia sentido, então havia uma recusa por parte das crianças. Todos também diziam que no outro país em torno de 2 meses eles já estavam falando, sem problemas, que o início era mais difícil. Isso eu percebi nas poucas vezes que tentei falar em francês, Liv dizia que não queria.

Bom, para não ficar sem fazer nada, baixei alguns desenhos em francês, aplicativos com "comptines" (músicas do folclore), e recentemente encontrei na Livraria Leitura alguns livros infantis em francês. Então, ela se diverte assistindo desenhinho, gosta de assistir as comptines, canta as músicas em francês (do jeito dela) e eu fico mais tranquila porque ao menos o ritmo da língua ela está vivenciando. Ela sabe nomear algumas coisas e acredito que o sentido dessas coisas virá com a vivência no cotidiano. Mas, são cenas dos próximos capítulos. Eu não costumo traduzir os desenhos, pois eles são bem auto-explicativos...os livros eu traduzo a primeira vez que leio (ou explico a história) e depois fico contando em francês mesmo. Ela presta atenção e não fica irritada por ser em outra língua (ainda bem!).

Os aplicativos de celular que ela mais curte: Chansons (que redireciona para o youtube as comptines, e por isso só funciona com internet); Comptines (que funciona offline, mas precisa comprar para abrir todas as músicas; eu comprei e ela adora); Langage! (um aplicativo de formar frases. Cada vez que ela clica o aplicativo fala a palavra e quando a frase é formada aparece uma animação com a frase que ela fez - exemplos bizarros como "la banane danse avec le broccoli entre deux vaches").

Este livrinho é muito lindo, fala sobre amor materno...uma raposa-criança que está de mau humor e diz que ninguém a ama. A mamãe diz que o ama, independente do que aconteça, mesmo que ele vire um besouro, um urso ou um crocodilo :)

Uma das aquisições na Livraria Leitura (RioMar - Recife)

Um dos exemplos das comptines que baixei para a Lívia, você pode encontrar aqui: https://www.youtube.com/watch?v=fzxYjZv7M0Q

E, fica para os próximos capítulos a inserção na língua... ;)