quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Os custos: E a bolsa? Dá para sobreviver?

A pergunta que todo mundo se faz e que eu, obviamente, vivia me fazendo. O valor da bolsa de pós-doutorado é considerado pelos locais um valor super elevado, acima da média que o pessoal recebe, ou seja, dá para viver tranquilo. A coisa que mais vai comer a sua bolsa, sem dúvida nenhuma, é o aluguel. No meu caso, por exemplo, o aluguel+energia+pacote internet come 60% da minha bolsa... é, isso mesmo, mais da metade :( Mas isso depende muito do seu status. Eu não vim sozinha, trouxe uma criança, e isso impede, por exemplo, de ficar em quarto de estudante, de alugar qualquer buraco por aí. E qualquer buraco em Paris é caro. Eu moro em um apartamento grande para os padrões parisienses, com dois quartos, todo mobiliado e BEM mobiliado...porque existem anúncios por aí que a mobília só falta sair rato de dentro. O apartamento foi reformado recentemente, tudo novinho, acaba compensando por isso. Prédio com elevador - uma raridade nesse universo de escadas - e tudo super bem cuidado, foi um achado! Descobri por acaso um anúncio no grupo de Estudantes Brasileiros em Paris, era pertinho da casa da minha prima, não precisaria mudar a Liv de escola, donos brasileiros, super gentis, prestativos, a vontade que dá é de não ir embora! rsrsrs

Mas, continuando. 60% da renda engolida não sobra dinheiro para ficar viajando por aí. Consegui viajar nas férias, mas se eu fosse depender exclusivamente do dinheiro da bolsa para isso, não ia rolar. Se você vem sozinho(a), solteiro(a), tudo fica mais fácil e bem mais barato, possivelmente poderá incluir no orçamento alguns finais de semana fora. Mas, isso é um blog que relata uma vida de mãe com filha, então...baixe as expectativas. Mas, Paris tem tantas opções de passeios que sempre tem o que fazer! O dinheiro que sobra permite pagar bem as contas, fazer compras incluindo itens desnecessários e alguns passeios pagos esporádicos - e muitos passeios gratuitos nesse intervalo :P

Tenho usado MUITO as praticidades de comida. Existe uma rede chamada Picard, que é uma rede de congelados, que os pratos feitos são 2€. As comidas são gostosas, sem muito sódio e baratas. Tem quem viva apenas de Picard. Compro sopas para Liv, sushi, peixe, legumes, sobremesas, tem de tudo! Sim, nem tudo custa 2€...só para constar. Lanchinhos para a Liv compro biscoitinhos, madeleines (um bolinho doce típico daqui, eles adoram!), suquinhos no saquinho ou garrafinha, tudo vem embaladinho em pacotes com poucas unidades para facilitar mesmo. Dias de semana ela almoça na escola, finais de semana cozinho em casa (comida normal :P). No jantar eu dou alguma dessas sopas ou coxinhas de frango que compro em pacotes e já vem pronto, ou cozinho algo rápido, ou fazemos algum lanchinho. Otimizo o tempo. 

As baguetes custam entre 0,80€ e 1,10€; os croissants entre 1€ e 1,20€, depende da padaria. Pode comprar no supermercado também, mas os de padaria são mais gostosos. Padaria aqui vende pão, doces, bolos...não vende outras coisas tipo queijo, margarina, presunto. Isso você compra nos supermercados ou nos inúmeros mercadinhos "Alimentation Générale"que existem em todas as esquinas (e que são os salvadores em dias de domingo, quando quase tudo está fechado). Vinhos tem de todos os preços e você compra no supermercado mesmo - desde 2€ até o infinito. Champagne dos mais baratos você encontra por 16€. Cerveja fica em torno de 1-2€, pode ser mais ou menos, depende se for comprar latinha ou garrafa e depende da marca também, claro.

Se resolver almoçar fora, a variabilidade de preços é imensa, depende de onde for almoçar. A recomendação é sempre pegar o menu do dia, que costuma ser mais barato. Você encontra menus do dia por 6-7€ em lugares pequenos e com pouca variedade (tipo, arroz e frango com molho); com um pouco mais, entre 8-10€ você compra um menu melhorzinho nos chinês e nos gregos; se puder gastar entre 11-15€ você come nos menus indianos, japoneses, franceses, com uma variedade maior (às vezes com entrada e bebida; às vezes com sobremesa...). Depois disso, começam a vir os restaurantes mais arrumadinhos e tal, preços variados. Se nada disso agrada, sempre pode comprar um menu de sanduíche nas próprias padarias (sanduíche, bebida e sobremesa) que varia entre 4-8€; comer no macdonald's com lanches em torno de 9€; comer um crepe na rua por uns 2-3€; comprar sanduíche pronto no supermercado por menos de 2€ e a bebida lá também; comprar sanduíches e bebidas em máquinas - preço bem menor!; e depois pagar o café na máquina também. Um cafezinho costuma ser 2€ nos restaurantes. Na máquina eu compro por 0,50€. 

Além do Picard, que eu super recomendo, acho importante saber dos supermercados. A rede Lidl é a mais barata, ao ponto de você comprar coisas pela metade do preço (mesmo comparando a outros mercados que não são tão caros). O problema? Não tem muita variedade e trabalha com marcas menos famosonas - apesar de às vezes você encontrar marcas famosas lá. As marcas não me incomodam, mas a falta de variedade sim... Carrefour, Dia e Intermarché possuem preços bons e variedade. Simply e Franprix possuem variedades, mas o preço é bem mais salgado. Casino é o mais caro de todos os tempos, mas de vez em quando você acha algo lá que não tem em lugar nenhum. Compre nele apenas essa raridade do universo, mas não faça as compras mensais lá...

Passeios não são baratos. O mais barato que eu paguei foi 4€ por uma peça de marionetes de bairro. Museus e parques quando são menos de 10€, comemore. Ingressos para apresentações costumam ter preços variados, dependendo de onde for sentar. Os mais baratos ficam entre 15-20€, mas vale a pena refletir se a criança vai conseguir assistir de longe. No começo eu saía comprando tudo que era espetáculo, mas fui baixando a bola porque fui vendo que os preços estavam surreais. Há um mês o pai da Liv está aqui também e passeios para 03 pessoas precisam ser pensados com MUITO carinho, para não gastar a bolsa na primeira semana do mês. Imagine que ir você e a criança ao teatro pode custar 50€. Com esse dinheiro você compra muitas baguetes, ahhahaha. É preciso organizar os gastos. Recebemos a bolsa de 3 em 3 meses, e tem que cuidar pra não empobrecer no primeiro mês pensando que tá rico. Eu costumo separar logo o dinheiro do aluguel e transferir para a conta francesa o valor que vou gastar naquele mês, para não correr o risco de usar mais de uma bolsa por mês. 

É isso. Deixo abaixo uma foto de um comprovante do Lidl de hoje. Comprei carne, biscoitos, ovos, queijo, presunto, arroz, salada, fruta...dá para ter uma leve ideia dos valores.


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

2 meses de escola - como vai a língua?

Liv completou dois meses de escola (sem contar contar com as férias, claro). Ela entrou na escola maternal com as crianças francesas, sem falar nada de francês. O começo foi MUITO difícil para ela, questionei-me várias vezes se estava fazendo certo, se eu não tinha errado em ter vindo para cá, tivemos vários dias ruins, muita agitação no sono, no cotidiano, nós duas ficamos estressadas no começo, era uma readaptação para as duas. Com a diferença que eu tinha escolhido vir, ela não. Imaginem, uma criança super desenvolvida, que já falava muito bem o português, que se expressava, conversava, chegar em um lugar que ninguém a entende e que ela não entende ninguém. Mesmo com toda a preparação que tentei fazer, o choque foi muito grande. Eu chorei algumas (muitas) vezes depois que ela dormia ou enquanto estava no banho tentando lavar a alma e acreditar que ia passar. Sofri um pouco sozinha esse período difícil, porque eu mesma estava "me julgando" por ter tomado uma decisão que já duvidava ser a decisão acertada. Confesso que tive dificuldade em acreditar que ia passar.

Um mês depois a professora disse que ela já entendia bem e que começava a falar algumas palavras, pequenas frases. Hoje, converso com ela em francês sem dificuldade. Ela entende praticamente tudo. Fala pequenas frases e tem um bom vocabulário para o tempo que estamos aqui. Fez amiguinhos na escola. Não reclama mais de acordar cedo e nem de colocar o casaco. Os nossos estresses que eram diários e excessivos, retornaram à frequência normal para uma criança de 3 anos - e uma mãe/dona de casa/pesquisadora. As coisas agora parecem estar, finalmente, no lugar. Nada assim, eternamente lindo, colorido, com pessoas saltitando pelos jardins - só esporadicamente, hahaha - apenas o real. Mas, quem quer viver de fantasia, né? Viver o real em Paris já me parece fantástico o suficiente :P mesmo com o cheiro de cocô de cachorro que domina em dias de chuva, com a "delicadeza" de algumas criaturas, com a suvaqueira no metrô, com os micos que pago, com o meu atraso de cronograma, posso finalmente sentir que foi uma boa decisão.

Hoje encerramos a noite batendo um papo em francês. Precisei filmar parte dele porque me surpreendi em vê-la entendendo tudo e respondendo - mesmo que às vezes respondesse em português. A minha pequena tá crescendo. Agora curte comer entrada, prato principal, sobremesa e queijo. Chama os seus bichinhos de doudou. Me chama de maman. Diz "attends un peu!" quando quer que eu espere. Diz 'bonjour' e 'bonsoir' na hora correta. Corrige a minha pronúncia quando não acerto o nome dos coleguinhas. Dorme sem ser ninada, na sua caminha. Mas, foge para a minha no meio da noite. Nossa parceria foi reestabelecida e nosso amor renovado. E essas são as nossas notícias.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

1o mês de aula e como vai a língua?

Hoje Liv completa um mês que frequenta a escola francesa e eu quero registrar bem o nosso percurso, pois foi algo que sempre buscava por aí, uma vez que creio ser a parte mais inquietante de uma mãe (ou pai) que se aventura em outro país sozinha com filho(s). Como disse em um post anterior, Liv não teve problemas em ir para a escola, ela sempre foi sem reclamar - exceto um dia ou outro que a preguiça tava grande para sair da cama, rsrsrs - e depois de três dias já começou a ficar na escola em período integral. Acordamos às 7h30; 8h50 deixo ela na escola e pego às 16h15. São 7h longe de mim, horas que eu uso para fazer minhas coisas, resolver algo de modo mais rápido - porque sair com criança é sempre um desafio -, estudar, ler, ficar à toa...de modo que das 16h15 até a hora de dormir eu fico com atenção exclusiva para ela. Finais de semana são dela também, não deixo nada para estudar sábado e domingo.

No final da 1a semana de aula teve uma reunião de pais e nela a professora falou sobre o que acontecia na escola. Disse que eles fazem todos os dias um pouco de exercício para a coordenação motora, que pode ser um percurso com obstáculos ou um percurso com bicicleta; que trabalham as formas, canções, linguagem; buscam também estimular a independência das crianças (reclamou, inclusive, que alguns pais se gabam do filho que sabe escolher aplicativos no celular, mas não consegue colocar o próprio sapato - ponto para a professora!). Na hora do almoço eles vão todos para o refeitório onde é servida uma entrada, o prato principal e a sobremesa. A alimentação é bem variada, no final do post tem uma foto com o cardápio que rolou no início das aulas. Depois do almoço, vão ao banheiro, depois pegam o doudou para tirar um soninho - sesta!. O doudou é algum bichinho (normalmente uma pelúcia) para a criança se acalmar, um amiguinho. Você escolhe um de tamanho pequeno/médio e ele fica na escola. Liv escolheu uma corujinha rosa que ela ganhou da avó dela no Brasil. Depois da sesta, eles vão ou para o parquinho ou fazer uma atividade em sala e nós vamos buscar. Quase sempre que chego eles estão ouvindo música :)

Apesar dela ter ficado facilmente na escola, o começo foi muito difícil para ela e para mim, e ela demonstrava isso através de uma forte agitação. Eu estava bem nervosa com esse novo momento, irritadiça; ela reagindo a tudo com choro, com grito, com agitação extrema; eu me irritava mais e era um verdadeiro caos. Eu conversava com ela, explicava que a gente precisava encontrar uma forma que não fosse tão estressante, mas tinha dias que a pergunta "que porra eu tô fazendo aqui?" ressoava na minha mente. As duas primeiras semanas foi de sono super agitado e emoções à flor da pele. Não cheguei a ter vontade de desistir, mas estive a poucos passos de gritar por socorro, hahaha. Todos os dias, a mesma coisa...buscava ela na escola, a professora dizia que ela não tinha conseguido dormir após o almoço, que estava muito cansada, fazendo muito barulho, e que, como ela não entendia a língua, acabava se irritando e extravasando as energias de outras formas. Ela dizia que ia passar, que eu não me preocupasse, mas eu ficava para morrer, sem saber o que fazer, me questionando se estava fazendo o certo em estar aqui, preocupada, e isso me cansava muito. Conversava muito com a Liv, dizia que era difícil mesmo, mas que precisávamos fazer um esforço, tentar se comportar melhor na escola, se acalmar...

Quando eu já estava cansando de ouvir a mesma resposta da professora, no final da 3a semana, a professora disse que ela estava bem mais calma, e dormindo bem na hora da sesta. Na 4a semana disse que ela estava compreendendo bem e que já estava tentando falar (pequenas palavras e frases do jeito que ela podia), e isso acalmou meu coração. De acordo com algumas pessoas que conversei o primeiro mês é o mais difícil mesmo - mas, nunca adianta os outros falarem até você viver a coisa de fato! - e que em geral depois de um mês eles já estão entendendo a língua. Voilà, comprovamos os dados. Claro que a Liv não entende TUDO, mas já consegue se virar. Quando eu falo em francês com ela - em geral eu falo traduzindo - e ela não entende sempre pergunta o que eu disse e agora não se incomoda mais se eu falo em francês. Antes ela dizia: "não, mamãe, não fale assim". Percebi, também, que ao longo do tempo vivenciando o francês o interesse pela língua foi aumentando. Por exemplo, antes quando ela pegava meu telefone ia direto para os aplicativos que tinham músicas em português; agora, ela abre 99% das vezes os aplicativos em francês. Desenhos animados 100% em francês. Ela curte bastante o Trotro, um desenho de um burrinho, e eu gosto que ela assista porque ele faz coisas do cotidiano, narrativas que auxiliam no vocabulário e ritmo da língua; gosta também da Émilie, uma gatinha; assiste o Caillou de vez em quando; e filmes tudo em francês. Eu assisto junto porque também me ajuda, hahaha. Às vezes ela mistura palavras em francês nas frases em português ou fala umas enrolações que pensa que é francês, mas o processo tá rolando bem...

O começo é desesperador, mas parece que de fato o primeiro mês é o mais cruel. O fato dela já ter vivência na escola para nós foi ótimo porque a língua foi o único fator de estresse. Conheci pessoas que a criança foi para a escola direto em outra língua e a coisa tá caminhando, mas não sei, talvez seja estressante demais. Eles pedem que a criança esteja desfraldada e muitas que chegam ainda estão sedimentando essa aprendizagem, imagino que deva ser difícil para elas...neste sentido, foi ótimo que Liv tenha chegado já com habilidade de ir ao banheiro sozinha. Eu até achei que ela pudesse ter algum acidente no começo, por não conseguir pedir para ir ou porque ficou entretida em outra atividade, mas não teve...todos os pipis e cacas foram no banheiro. Creio que isso é mérito também da escola, porque eles levam todas as crianças ao banheiro nos intervalos das atividades, de modo que Liv nem precisava pedir. 

Estou satisfeita com a escola e confiante que conseguirei estudar o que preciso nestes intervalos que Liv está na escola. Tudo que eles abordam aqui é igual ao que era abordado na escola brasileira, a diferença é que eles são mais regrados, possuem horários (até os pais precisam seguir as regras! Tem hora para deixar e buscar, isso é religiosamente cumprido por todos), uma rotina bem estabelecida, mas não vi nada de assustador, de frieza, pelo contrário...eles são atenciosos, carinhosos, todo dia somos recebidos com sorriso, educação, de todo o pessoal da escola. Uns são mais afetuosos que os outros, mas em todo canto é assim, né? As diferenças que vi aqui - na escola! - em nenhum momento foram pontuadas como negativas por mim. Depois de uma semana intensa, sábado de manhã Liv vai ao "Bébé Gym", que acontece na própria escola e é gratuito. É aula de ginástica, eles trabalham o desenvolvimento motor de forma lúdica, super bacana! No fim, quem tá mais aproveitando da vida francesa é a Liv! :P

Cardápio que rolou no início das aulas

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Maternidade opressora do K-rai: porque eu não 'nasci para ser mãe' (e porque a 'criação com apego' é uma bomba)

(ainda em fase de rascunho...)

Hoje resolvi dar uma pausa nos meus posts sobre La vie en France para retomar um tema que é constantemente discutido nos meios do que costumamos chamar "maternidade ativa". É provável que eu não consiga organizar bem os meus pensamentos, mas é fato que há muito tempo tenho me incomodado com algumas questões. Aliás, desde que a Liv nasceu, né? Poderia iniciar explicando o que é e o que deixa de ser a famosa 'criação com apego', mas não me deterei nisso. Na tentativa de me fazer entender - o que não significa que todos devam concordar comigo - vou tentar abordar o tema envolvendo em conjunto com a minha história.

Nunca imaginei a vida sem ser mãe. Achava que isso era fundamental para mim, apesar de não necessariamente achar que toda mulher devesse ser mãe. Eu não achava que isso fosse uma necessidade para todas as mulheres, mas confesso que achava estranho se alguma optava por não ter filhos. Eu queria. Dois ou três filhos, achava que era melhor assim, afinal, criança precisa ter irmão, né? Então, imaginem a minha alegria quando engravidei. Vivi a gravidez como um sonho que se tornava realidade. E nesse sonho comecei a buscar sobre nascimentos, tive contato com a realidade obstétrica brasileira, e comecei a ver que nascer por via vaginal era uma grande que eu precisaria travar. Em grupos de partos comecei também a ter acesso a textos sobre maternidade, aleitamento, sobre a importância dos primeiros anos de vida, sobre a necessidade de se criar com apego que teria como objetivo último o desenvolvimento sujeitos mais humanos, fortalecendo vínculos positivos, de amor. Fui percebendo que era tipo "um combo". A partir do momento que você se envolvia com a causa da humanização do parto, acabava assumindo também modelos de criação que iam de encontro ao estabelecido socialmente.

Liv nasceu e sofreu muitas intervenções desnecessárias após o seu nascimento. Eu sabia que um bebê deveria mamar, estar com a mãe assim que nascesse, mas a minha filha foi afastada de mim poucos minutos depois do nascimento e a levaram para uma UTI neonatal. Foi um procedimento desnecessário e que além de todo o sofrimento que nos causou no momento, gerou em mim um sofrimento por não ela não ter vivido como deveria ser nos seus primeiros momentos. E eu chorei muito e por muito tempo. A culpa que se instalou em mim no puerpério por "ter permitido" que ela vivesse tudo aquilo me matava todos os dias. E eu fazia de tudo na necessidade maluca de "me redimir" com ela...mas, era um tempo que não poderia ter de volta e isso me magoava muito. Em um desses dias, que a tristeza me dominava, o pai dela - preocupado com ela e comigo - perguntou: mas, você acha que isso vai causar alguma coisa nela no futuro? Você acha que isso vai a prejudicar de alguma forma? Não, eu não achava. Mas, paradoxalmente, estava acreditava que sim, naquele momento. 

Foi a primeira vez que alguém colocou em cheque, mesmo sem intenção, o modelo epistemológico em que eu estava me envolvendo. Eu, que terminei a graduação defensora da Psicologia Sócio-Histórica, que me via fascinada pelas elaborações de Vigotski, que condenava fortemente o psicologismo e o determinismo, estava de repente envolvida em um discurso que abarcava justamente essas questões. Defendi avidamente a Criação com Apego, falei de Winnicott e Bowlby, trouxe para minha casa bases epistemológicas com as quais eu não me identificava, mas que parecia o certo naquele momento. E fiz de tudo para proporcionar o holding, para ser a tal mãe suficientemente boa, cuidava de todas as demandas nem que para isso precisasse me anular completamente. Contribuí, com isso, com o apagamento de outras figuras da vida de Liv e com a carga excessiva em cima dos meus ombros. Aos poucos comecei a ver que estava presa em um discurso que não me pertencia. Como eu poderia defender os direitos reprodutivos, defender as mulheres, quando esse discurso travestido de amor (e de apego seguro) enclausurava essas mesmas mulheres na função de mãe? Mães que julgavam e culpavam a si mesmas quando estavam exaustas e não queriam mais amamentar (mas, não podia né, tem que amamentar até os 2 anos!); que acreditavam terem "saído de uma Matrix" e eram privilegiadas por isso, enquanto as outras, coitadas, não estavam empoderadas o suficiente e acreditavam no médico fofo que passava mucilon para o filho. Essas mães - e eu me incluo aqui - começaram a virar escravas de um outro discurso que dizia a elas como deveriam cuidar dos seus filhos para desenvolver sujeitos emocionalmente sadios. O risco é enorme né, imagina só, o risco é criar um sujeito que não é emocionalmente sadio. Quem iria querer isso!? 

A questão aqui é: eu não compartilho da ideia de que os primeiros anos de vida são fundamentais no desenvolvimento da personalidade e muito menos que o sujeito é puramente uma expressão do seu desenvolvimento emocional, psicológico. E comecei a ver que, bem, sendo assim, não nasci para ser mãe. Não nasci para me anular, para ser um ser abnegado e nem desejo que minha filha seja assim. Alguém poderia dizer que: "ah, mas ser mãe é isso mesmo, tem que se sacrificar, tem que colocar o filho acima de si". Não, velho, não mesmo... Quem disse isso? Essa visão de que maternidade é sacrifício e que a mulher é uma heroína abnegada é um discurso de opressão do k-rai. Retira a responsabilidade de outros atores no desenvolvimento dos sujeitos e reforça a culpabilização feminina. Estou dizendo para deixar o bebê chorando, não amamentar e relativizando todas as (supostas) escolhas das mulheres? Não, não mesmo... estou apenas dizendo que é preciso problematizar de onde partem determinados conhecimentos propagados como verdades. Você realmente acha que é seu modo de maternar na 1a infância que determinará o futuro do seu filho? Eu não. Eu acho que o sujeito sofre determinações sociais ao longo da vida toda e as possibilidade de superação delas também estão presentes na vida toda. Não podemos confundir criar com amor e respeito com "criação com apego". Não são a mesma coisa. A primeira envolve a empatia com o ser humano sob sua responsabilidade, a segunda é uma filiação epistemológica que vai além disso (que, ao meu ver, mais aprisiona do que contribui).

Fato é que isso acirra lutas entre sujeitos quando a pauta não deveria ser individual, mas social. Condenar aquela mãe que não amamentou, chamá-la de menas mãe, acreditar que ela não se empoderou o suficiente, além de uma arrogância sem tamanho é ignorar todas as questões materiais que nos rodeiam. É olhar para o seu próprio umbigo e acreditar que se você leu, buscou, qualquer um pode fazer. É quase um discurso meritocrático, individualizante, achar que é apenas uma questão de empoderamento. Não, não é. Você, mulher, se encerra nesse discurso que te oprime, que te faz achar que não está sendo suficientemente boa para desenvolver um apego seguro, um vínculo positivo que proporcionará um sujeito saudável; e, ao mesmo tempo, encerra essas outras mulheres em um outro. E o mais bizarro disso tudo é ver que mesmo não sendo exatamente um conhecimento feminista, uma vez que ele oprime a mulher, é defendido com unhas e dentes em movimentos que tem "direitos reprodutivos" como pauta. Parece-me bem contraditório.

Hoje, então, começo a entender o que tanto me incomodava. Eu estava defendendo uma pauta com a qual não me identificava tanto teórica quanto pessoalmente. E perdoem-me aquelas que um dia julguei. Perdoem-me aquelas para as quais defendi a criação com apego sem problematizar a filiação teórica. Não é uma questão de relativizar e defender agora que cada um faz o que quer, que cada mãe faz o que acha certo ou algo do gênero. É entender que a problematização vai além do umbigo de cada um, porque esses umbigos estão ressoando vozes que são históricas, sociais. Fórmula mágica para criar filho não existe, mas existe a possibilidade de criar com amor, respeito e sem violência fora da criação com apego. Do lado de cá, vejo que minha função de mãe é oferecer ferramentas, possibilidades/alternativas de enfrentamento, respeitando esse ser humano que está ao meu lado. É contribuir para sua humanidade.

***
UPDATE 29/09

Bom, depois de alguns feedbacks, algumas conversas interessantes, achei importante reiterar e/ou acrescentar três pontos, interligados entre si:

1) Muitas mulheres falaram da inspiração que tiveram quando leram sobre "Criação com Apego", do quanto para elas foi importante ver que existiam formas de criar os filhos que não eram violentas, que eram voltadas no desenvolvimento de vínculos positivos. Bom, de fato, talvez o principal ponto para a teoria tenha sido apontar caminhos diferentes, outras possibilidades...e acho isso massa! Mas, é importante ter em mente que criar com amor, respeito, carinho, de forma não violenta, NÃO É sinônimo de criação com apego. São coisas diferentes. Existem muitas perspectivas teóricas que abordam o desenvolvimento emocional/afetivo, psicológico, da personalidade, e não excluem o vínculo afetivo com os filhos. É possível criar sujeitos sadios fora da criação com apego. Não é a única alternativa do universo.

2) Outras mulheres - vejam que interessante, só mulheres! ha-ha (*suspiro profundo*) - trouxeram uma identificação pessoal e focaram nisso, seja positiva, seja negativamente; ou ligaram essa identificação pessoalmente a mim, à minha história, e talvez ao fato de ter sido eu quem tenha colocado esse peso todo (olhaí a culpabilização, gentem...). Vejam, isso é um risco muito grande. O argumento do texto foi entrelaçado com minhas vivências, mas o ponto de defesa aqui é justamente que NÃO nos foquemos nas singularidades. Singularidades são belíssimas, mas são muitas, sofrem muitas interferências pequenas, pessoais e intransferíveis, que podem apagar a verdadeira pauta e diluir a luta social e histórica na individualidade. Não podemos fazer isso. Assim como não podemos sair apontando o dedo, não podemos focar na NOSSA vivência pessoal, mas em toda uma estrutura que permite o surgimento disso. Focar a luta em uma pessoa só faz com que o todo se dilua e não permita mudanças radicais.

3) O ponto acima também traz uma outra reflexão que eu coloquei por cima e quero deixar bem claro. Quando focamos em experiências pessoais vamos sempre para o lado da RELATIVIZAÇÃO e isso é péssimo para uma luta mais efetiva de emancipação feminina. Fulana tem a vida assim, assim e assado; Sicrana tem a vida assim, assim e assado; "ah, é relativo, cada um é cada um, cada um faz suas escolhas". Sim, de fato, cada um faz suas escolhas, mas as singularidades não podem ficar acima do todo, porque sairemos relativizando tudo e, novamente, apagando a verdadeira pauta. Não se pode diluir o todo nas singularidades, mas podemos analisar as singularidades a partir do todo, porque elas refletem pontos em comum que estão postos objetivamente na sociedade. Sendo assim, qualquer um pode mesmo se apropriar de qualquer teoria como quiser (noção relativista, foco na singularidade), mas isso não retira da produção teórica o que ela É, como ela se constituiu, o que ela produz objetivamente porque ela não é isenta, não foi produzida num vácuo social e histórico, ela NÃO é natural...

***
Existem por aí textos super bacanas que problematizam com profundidade algumas dessas questões. Meu foco aqui foi a minha histórica entrelaçada com pressupostos epistemológicos, mas quem sabe depois retomo as questões...quem sabe!

Aqui um texto super bacana que aborda com mais profundidade as coisas que eu citei, muitos pontos nossos estão em comum e que acho que vale a leitura:  http://pretamaterna.blogspot.com.br/2015/09/os-usos-e-abusos-da-criacao-com-apego.html

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O francês do cotidiano

As pessoas já tinham me falado e elas tinham, de fato, razão: o problema não é o uso formal da língua, mas seu uso informal. Fazer uma compra é um desafio, especialmente quando se usa um vocabulário específico - que você, obviamente não domina - e os interlocutores não estão nem aí se você entende ou não. Eles falam rápido, bem rápido. Eu, às vezes, entendo alguns segundos depois, hahaha, mas nem sempre ainda dá tempo de manter a conversa. E é preciso assumir para você mesmo que é um estrangeiro e tem que fazer um esforço nessa direção.

Hoje presenciei uma situação bizarra: estava fazendo a pré-inscrição no L'Arc (o grupo de conversação que citei no post anterior) e tinha uma senhora russa que queria se inscrever. Mas, o grupo é de conversação, logo, subentende-se que você fale alguma coisa da língua, correto? Gente, o esforço hercúleo que a mulher do grupo fez para dizer a essa senhora que ela precisava antes fazer um curso, que ela precisava falar melhor, ela perdeu a paciência e disse que se a mulher quisesse sobreviver em Paris ia precisar falar muito melhor que aquilo. Que agonia! Os outros russos tentavam explicar, mas no fim eu fui embora e a mulher ainda estava plantada lá, achando que poderia fazer a inscrição. Triste, mas mostra que não é tão simples estar em outro país e achar que poderemos nos comunicar com facilidade em outra língua, com gestos ou seja lá o que for. 

E o cotidiano que nos ensina. Ensina o ritmo, os hábitos, as frases e palavras mais importantes... E eu ando fazendo uma lista mental do que eu notei em termos de língua e, para não perder, vou colocar aqui e ir atualizando à medida que for descobrindo.

Prendre un verre - a primeira vez que ouvi foi minha prima me perguntando se eu queria e minha resposta foi: un verre de quoi? Bom, é un verre de qualquer coisa. Utiliza-se para convidar para um drink, para tomar alguma coisa...

Pardon - utiliza-se para pedir licença. E ocasionalmente para pedir desculpas. Tipo, se você bate sem querer numa pessoa no metrô, você diz pardon; mas se você faz algo mais sério, sei lá, pisa no pé dela, as pessoas dizem desolé.

Ouais - uma variação do Oui que todo mundo usa. A pronúncia parece a onomatopeia do choro do bebê, acho estranho, mas já estou pegando.

Chercher le fils/la fille à l'école - é pegar a criança na escola. Aprendi isso no primeiro dia de aula porque eu parecia uma doida dizendo que queria prendre minha filha e a professora me olhava com cara de tacho.

Ça veut dire - significa um "ou seja" ou um "tipassim". Muito usado como "tipassim", hahaha.

Bonne journée/ Bonne soirée - é o cumprimento que você dá quando sai de algum canto, é desejar um bom dia e uma boa tarde/fim de tarde na partida. Se você chegar em um lugar às 17h você diz: Bonsoir. Quando for embora você diz Bonne soirée. Bonne nuit só se diz quando vai dormir. 

Entendre - para nós pode parecer que é entender, mas significa "escutar, ouvir". Então, se alguém perguntar: tu m'entends? ele quer saber se você tá escutando, não se você está entendendo.

Ouh la la! - essa é a interjeição mais engraçada de todos os tempos, mas todo mundo usa e você acaba se adaptando a ela. Pode ser usada em várias situações, como um "nossa", um "putz", ou até mesmo um "carai"(no modo que usamos na PB).

D'accord - essa, depois do Oui, é a mais usada. Você usa para dizer um "tá certo", um "ok" se for em forma de pergunta. Se alguém está te explicando algo você diz "d'accord"; se você marca com um amigo para sair tal hora, você diz "d'accord?". Literalmente é "de acordo", mas convenhamos que essa tradução é fraca para o sentido. Se usa tanto isso que Liv brinca de falar ao telefone e fica dizendo: "oui, oui, d'accord".

Chacun à son tour! - um de cada vez. Isso é muito útil no parquinho. Além disso, é útil "attend!" (espera!), "Arrête!", "Vas-y". Crianças brincando precisam saber desses comandos. Liv aprendeu rapidinho porque precisava minimamente se fazer entender.

N'importe qu... - eles usam para dizer algo como "qualquer coisa", tipo, "Fulano dit n'importe quoi!", ele diz qualquer coisa, como se fosse sem pensar. Já vi também sendo usado no sentido de "eu não sou qualquer uma" (je ne suis pas n'importe qui).

Donc e du coup - usado como marcador de continuidade - então, logo. Eles usam muito MESMO.

E a galera tem um mau hábito de falar "ahhhnnn, ahhnnn, ahhhnnn" entre uma ideia e outra. Bom, eu adoro isso porque uso para raciocinar :P

E tem uma entonação sempre no final das ideias o que torna as frases peculiares, como se tivessem saído de um musical infantil. O bonjour de muita gente parece que vem de uma animação Disney, a primeira vez que ouvi achei que a pessoa era super simpática, mas depois percebi que era hábito mesmo.

Prossigamos.

sábado, 12 de setembro de 2015

Curso de francês na Sorbonne

Antes de vir eu tinha a intenção de fazer um curso de francês por aqui. Tinha pesquisado a Aliança Francesa e o curso famoso da Sorbonne. Por conta da carga horária mais pesada, com cursos de no mínimo 12h semanais, tinha descartado a Sorbonne e ia fazer um curso extensivo na Aliança, mas, com menos horas semanais. Cheguei até a entrar em contato com eles, já estava quase certa. Entretanto, quando cheguei aqui, minha prima disse que o curso da Aliança era muito fraco, que era melhor a Sorbonne, que ela tinha feito os dois. Decidi, então, fazer um curso de verão, por um mês, com 10 horas semanais de gramática e 5h de fonética durante três semanas (630€), antes das minhas aulas iniciarem efetivamente.

Já frequentei duas semanas do curso e vou dizer o que eu senti sobre ele:

CONTRAS:
  • Achei o horário péssimo, porque eu tenho 3h de aula por dia num horário que me faz perder meu dia. Das 10h às 11h tenho aula de Fonética e das 11h às 13h tenho a aula de gramática. Chego em casa em torno de 13h30, almoço e em torno de 14h vou fazer o que preciso fazer. Acontece que às 16h preciso sair para pegar Liv na escola e, sendo assim, acabo tendo pouco tempo útil para estudar e fazer as coisas de casa, organizar a vida. E as aulas são todos os dias, né? Complica bastante para quem tem mais afazeres. Mas, isso é muito pessoal, próprio da minha rotina, não é aplicável a todos. 
  • As aulas não focam muito na parte da expressão oral e isso me incomoda. Acho que o nosso principal problema quando chegamos - para quem já tem um certo nível de francês - é aliar a nossa expressão oral com os conhecimentos gramaticais. Não sei se isso é próprio da professora que pegamos, mas sinto falta de falar - ou tentar falar - mais. Esses dias ela pediu que apresentássemos um texto, o autor, mas acabou falando mais do que a gente, não nos dava muito espaço para refletir e tentarmos nos expressar.
  • A aula de fonética tem uma parte que trabalha com repetição de frases, que exigem a sua compreensão e a pronúncia adequada. Até aí, tudo bem. Mas eu tenho um problema de memória, hahaha, e isso me dá muita raiva! Porque a professora fala a frase, eu entendo o que ela disse, mas já esqueço as palavras exatas que ela usou para poder repetir. 
  • O sotaque da galera e a dificuldade de expressão dos colegas às vezes incomoda, parece que me faz regredir um pouco.

PRÓS:
  • Eu sou bem do tipo nerd e as aulas de fonética são fantásticas porque a professora explica tudo teoricamente, como se pronuncia, o porquê, posicionamento da língua, lábios, abertura da boca...isso é bem bacana!
  • A parte da repetição das frases, apesar do contra que citei, é interessante porque mostra exatamente onde a gente erra. A gente escuta o professor e nos escuta, fazendo com que aos poucos possamos ir nos aproximando da pronúncia mais correta. E dá um nó no juízo e não é fácil.
  • Os professores são muito capacitados, são pessoas experientes, com conhecimento geral a oferecer e isso é muito bom quando estamos chegando em um país.
  • O teste de nível é bem real porque na minha sala a variação de conhecimentos é pequena. Isso é ruim por um lado, porque penso que os desníveis podem ajudar a puxar a aprendizagem, mas os que existem são bacanas. Todos os alunos são adultos, dedicados, peguei uma turma muito boa, estudiosa.
  • As turmas são pequenas, dá pra trabalhar bem, todos são chamados a participar, o que é muito bom.
  • As aulas, só por serem totalmente em francês, já ajudam. São 3h ouvindo franceses dando aula, alguma coisa sai daí! É um baita progresso entender a aula toda sem se perder. Tô bem satisfeita!
No geral, eu recomendo o curso. Acho corrido, mas se eu pudesse passar uma temporada mais longa estudando exclusivamente francês, faria um curso de 4 meses com 15-20 horas semanais. Quem puder fazer, faça!

Para saber mais:

Depois, pretendo praticar conversação um grupo chamado L'Arc, que você paga 10€ por ano e conversar com franceses voluntários, que corrigem suas falas. Geralmente pessoas aposentadas, deve ser bacana! As inscrições ainda não começaram, mas vou fazer. Depois conto como foi. Essa dica foi de um amigo! Informações: http://www.arc-cercle-international.com/

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Primeiros dias na escola

A "rentrée scolaire" aconteceu no dia 02 de setembro, uma quarta-feira. Bom, não sei se tinha dito antes, mas nas quartas as crianças só tem aula de manhã. De qualquer forma, o diretor havia me dito que nos primeiros dias era melhor deixar a criança apenas de manhã e avaliar a adaptação de cada uma. Ele nos disse que a gente deveria deixar a Liv as 8h50 e tínhamos até às 9h para nos despedirmos, ficar com ela e falar com a professora. Uau, 10 minutos, hein? Pois bem, na quarta-feira chegamos umas 8h45 e tivemos que ficar esperando abrirem a porta, hahaha, porque ela só se abre efetivamente às 8h50. 

Às 8h50 entramos, falei com a professora, expliquei que Liv não falava francês, mas ela disse que não tinha problema. Liv me deu tchau bem de boa, ao passo que outras crianças choravam, estavam agarradas nos pais. Acho que isso aconteceu porque ela já tinha vivenciado escola antes, enquanto a maioria das crianças lá está entrando pela primeira vez. Voilà, ponto para mim! :P Na saída ainda falei rapidinho com a assistente de sala, preocupada com as idas ao banheiro e a língua, mas ela disse que eles incentivam a ir de tempo em tempo e que eu não me preocupasse que qualquer coisa elas gesticulavam e se entendiam, rsrs. E eu saí chorando da escola, com o coração apertadinho, um medo imenso dela não dar conta...mas, minha pequena-adulta, super corajosa e desenrolada ficou super bem. Contou-me que cantou, gritou com um menino, ouviu historinha sobre um chien, parece que tudo foi bem tranquilo.

No outro dia ela já acordou menos preguiçosa e tudo correu bem também. A professora disse que ela estava bem, que não tinha nada para dizer, que não teve nenhum acidente de pipi, tudo uma maravilha! Por isso, a partir da próxima semana já vamos testar o período integral. Dia 11 teremos uma reunião de pais, eles vão nos passar o programa, agora é pra valer! A professora dela é uma pessoa acessível, tranquila, mas pareceu mais séria; já a assistente de sala é super sorridente, simpática, carinhosa...minha filha está em boas mãos :)

Coisas a se notar:

1) Eles entram às 9h e não tem lanche antes do almoço. Eu, preocupada que sou, coloquei uns biscoitos dentro da bolsa e disse pra Liv que se desse fome ela fosse comer. Ela reclamou que não pôde comer, que a professora disse que não podia e tal. Eu já sabia disso, mas sou mãe né, dá sempre um medinho da cria passar fome.

2) A Liv parece entender algumas coisas em francês. Ela se diverte quando converso com ela em francês e inventou um dialeto que ela pensa que é francês, que todos entendem, e tenta se comunicar assim. É engraçadinho e eu não tolho, porque isso a estimula a tentar. Já percebo que no meio das enrolações saem algumas palavras que existem, hahaha, e isso não parece ser um problema para ela. 

3) Foi boa a ideia de ler em francês, de mostrar musiquinhas do folclore local durante um tempo antes de vir, pois ela identificou uma música no primeiro dia de aula. Disse para mim que era uma música que a gente já tinha escutado e cantou. Era a famosa "Frère Jacques".

4) Tem muitos papeis para preencher. Eles entregam um caderninho com informações iniciais, tipo a agenda que a gente usa no Brasil, e a gente precisa ler e assinar. Dentre esses documentos tem uma paranoia mucho loka com a saúde. Pedem autorização para transferir com ambulância em caso de necessidade, pra fazer intervenção cirúrgica em caso de urgência, esse tipo de coisa. Mas isso não é novidade, os franceses adoram preencher papeis. E enviar papeis. E pedir papeis.

5) A mochila fica na escola. Só volta para casa em caso de acidentes de pipi. Não sei se isso é uma regra geral, mas acho que vou precisar trocar as roupas que deixei lá porque o frio está chegando... 

Prossigamos.