quinta-feira, 20 de março de 2014

Será que volto a virar gente?

Lembro como se fosse ontem quando entrei no mestrado, com energia de sobra, questionando as pessoas que relatavam dificuldades em concluir a pós, parecia tão simples! Terminei o mestrado do jeito que comecei, com muita energia, muito tranquilamente, quase como se não fosse nada demais... E veio o doutorado, e esse danado queimou o meu juízo. Eu fiz tanta coisa correndo, tanta coisa ao mesmo tempo, que de repente só a obrigação de terminar já não dava mais conta de motivar. Nem progressão salarial. Tentei reencontrar o amor pelo meu objeto de estudo, sei que o amor existe, mas ele ficou soterrado pela obrigação, pela burocracia, pelo dever. 

Hoje cá estou, um zumbi, na frente do computador o dia inteiro, dor de cabeça que não passa com nada, sono quebrado e estresse, muito estresse. Não produzo como gostaria, cada linha é um parto, mas ainda faltam tantas linhas! O tempo passa, corre, e o desespero aumenta. Preciso de pausa, mas não posso pausar; se eu paro, não produzo; se eu não paro, não produzo também, o que fazer? Menos de 2 meses para entregar a versão final, tantas demandas, tantas atividades, tanta desmotivação, nunca imaginei que fosse passar por isso! Tá difícil, muito difícil...no meio disso tudo fico me perguntando se um dia eu volto a ser gente, já que hoje ter vida fora do computador parece um sonho distante, uma utopia.

Por essas e outras que dou um conselho a quem ler isso aqui: nunca (NUN-CA) pergunte a um aluno de doutorado "como está o doutorado?" ou alguma pergunta similar que o faça lembrar disso. A cobrança que fazemos de nós mesmos todos os dias é enorme, e quando estamos longe dele só queremos tentar fugir, pausar, mesmo sabendo que ele tá sempre ali, porque diferente de um trabalho comum, as obrigações acadêmicas estão na cabeça, não tem como "bater o ponto". É, quem sabe um dia eu viro gente de novo...

quinta-feira, 6 de março de 2014

Lei de Murphy em 5 passos

1) tela azul da morte exatamente na hora que você pensa em salvar o arquivo;

2) cria dormir 3h seguidas só porque você naquele dia resolveu que não ia dormir com ela;

3) ir ao banheiro e descobrir, quando já era tarde, que não tinha papel higiênico;

4) encontrar aluno seu em um momento que era para ser de diversão;

5) descobrir que ao invés de ser restituída no imposto de renda, tem é mais dinheiro pra pagar (cooooomo!? Como!? Ainda estou tentando engolir essa história...).

sábado, 1 de março de 2014

Falando de peitos

Fiquei bastante em dúvida sobre qual dos temas que andam remexendo a minha cabeça eu deveria falar. Mas, como só agora concluí o desfralde completo da Liv, resolvi que seria interessante revirar algo que sempre rodeia a minha cabeça: amamentação! Não vou aqui falar dos benefícios, do quanto sou contra chupeta, leite artificial dado desnecessariamente, essas coisas, pois vou considerar isso como já estabelecido e ir direto para o que eu quero dizer.

Toda mãe um dia entra em parafuso por causa da amamentação. Assim, entramos em parafuso algumas vezes em momentos distintos, mas inevitavelmente tem aquelas horas que pensamos em desistir e entupir a criança com uma mamadeira de mucilon (#sqn!). Das queixas mais comuns que escuto, e que também são minhas, é que tem dias que não se consegue fazer nada, a criança só quer ficar pendurada (tem dias que eu nem sento, porque se eu sentar é batata, Liv vem pedir mamá); bebê acorda de madrugada várias vezes e só pára de chorar com o peito (acordar de madrugada não acontece só com criança que mama no peito, hein?); vontade da mãe de se sentir dona do próprio corpo; ataques em qualquer lugar em busca do peito (leia-se: bebê praticamente arranca a roupa da mãe); não aceita dormir com outras pessoas, porque só dorme no peito; e uma queixa bem minha: vontade de usar roupas que não são legais para amamentar (hahaha, aí eu vou dar aula com essas roupas, lá não tem perigo de rolar um ataque às peitcholas)! Entre uma surtada e outra, várias mães desmamam seus filhos de forma brusca e cruel (por exemplo, tira e deixa o bebê chorar até cansar, uma dia ele desiste; ou bota vinagre/café/pimenta nos seios) ou de forma enganosa, inventando histórias para a criança (tipo, o "mamá está dormindo" ou "o mamá está dodói" - aí coloca um curativo no seio). Muitas fazem isso porque não vêem outra alternativa e, de fato, não é um tema exatamente fácil de se debater ou de se encontrar referências interessantes para ajudar. Uma coisa que eu li e faz muito sentido é que muitas vezes o problema nem é a amamentação em si, mas a nossa vida atarefada, a necessidade de fazer outras coisas, porque talvez se vivêssemos só para isso, esperando o desmame natural, tudo seria mais simples. Tá que isso é um exagero, mas eu realmente percebo que surto quando tem outras coisas me incomodando, seja trabalho, doutorado, alguma questão emocional; no resto das vezes, sou (ou costumo ser) mega-ultra-super paciente.

Então, eu vivo me deparando com essas questões, leio, tento me organizar internamente e fazer o que eu acho mais adequado, com base na minha rotina e nas minhas crenças. Três coisas que eu estabeleço antes de fazer algo grande aqui em casa é (1) avaliar se aquilo vai ser melhor para a Liv, analisando inclusive se vai ser bom pra mim a ponto de melhorar a minha relação com ela - acho que isso é sempre bom, né?, (2) qual a minha disponibilidade efetiva (física e emocional) para fazer e (3) listar o que eu admito e o que eu não admito durante o processo. Com relação aos peitos, três grandes coisas foram feitas aqui em casa: um semi-desmame noturno (aos 12m); uma semi-retirada, aos 18m, da livre demanda e oferta (rsrsrs); desassociação peito-sono [em processo]. Esses 'semi' eu explico depois.

[semi] Desmame noturno da Liv

Quando Liv completou 12 meses ainda tinha sono de recém-nascido, dormia no máximo 3 horas seguidas e tinha uma mãe que já não aguentava mais ficar sem dormir. Dentre as possibilidades, o desmame sugerido pelo Dr. Gordon parecia interessante, partia da ideia de diminuir o tempo das mamadas aos poucos, colocar o bebê acordado no berço e ficar com ele sempre. Choro faz parte do processo, mas o bebê não fica sozinho chorando. Ele propunha algo para ensinar o bebê a dormir sozinho e eu só queria que Liv esticasse mais o sono. Estabeleci que não admitiria choro desconsolado, bebê dormindo por cansaço de tanto chorar e que eu não me importava de niná-la até dormir. Parti do pressuposto que ela iria, sozinha, esticar o sono...então, a minha proposta era dar o mamá, ninar até dormir e colocar no berço. Ela dormia em torno de 19h, acordava pela primeira vez umas 22h, depois perto de 01h, outra acordada em torno das 4h e depois, definitivamente perto das 6h.

Na primeira noite, fiz isso as 22h, ela brigou um pouco, mas dormiu. Acordou 01h, mamou, fui ninar e não parava de chorar...chorou, chorou, chorou, já estava perdendo a paciência, tentei amamentar, mas ela não relaxava, não dormia, nem o peito estava resolvendo mais. Depois de mais de 1h nessa brincadeira, resolvi por alguma iluminação olhar a fralda dela e, assim que abri a fraldinha, ela sorriu...tadinha, os dentinhos estavam nascendo e ela estava toda assadinha, pela primeira vez na vida! Nem preciso dizer que me senti super mal de perder a paciência, mas depois da fraldinha trocada, muita pomada, ela dormiu sem mamar e sem chorar. Nas próximas duas noites eu fiz uma maratona pelo quarto na acordada das 22h, andando, ninando, andando, ninando...ela não chorava, mas também não dormia, demorava a ceder. No quarto dia ela já dormiu assim que eu peguei e depois simplesmente parou de acordar as 22h...e também parou de acordar a 1h (nessas acordadas da 1h, eu estava com sono e preguiça de ficar andando pelo quarto, depois da 3a noite comecei a niná-la dentro do berço mesmo). Mas, na mamada das 4h era briga sempre, ela QUERIA o mamá...então, resolvi por um meio-termo, fiquei satisfeita de manter apenas uma acordada e deixei o desmame completo para mais tarde. Foi empate.

Até hoje, aos 20 meses, essa acordada em torno das 4h acontece e eu ainda não tive disponibilidade física e emocional para tirar a mamada. Estou estabelecendo o período das férias como o momento ideal, pois provavelmente já terei defendido também, então a cabeça estará mais aliviada.

[semi] Retirada da livre demanda e oferta

Aqui fui eu dando uma ajudinha para a diminuição das mamadas durante o dia, quando ela completou 18 meses. Liv costumava (ou costuma) pedir sempre que está entediada, sempre que se incomoda com alguma coisa, sempre que eu estou sentada "sem fazer nada", sempre que eu não estou dando 100% de atenção a ela, ou seja, o dia inteiro porque obviamente alguma dessas coisas inevitavelmente irá acontecer durante o dia. E eu cansada, claro, como sempre...algumas vezes a amamentação acontecia por pura obrigação, por raiva, sem prazer ou vontade nenhuma de dar mamá.

Vi que era algo que eu precisava fazer por nós duas, até para que nossa relação não fosse pautada apenas no peito e resolvi que não iria admitir durante o processo choro completamente desconsolado, daqueles que a gente sabe que não é apenas reação à frustração. As reações às frustrações eu resolvia (tento, ainda, resolver), pegando no colo, acolhendo, distraindo.

Então, comecei a estabelecer algumas regras para nós: 1) se ela não pedir, eu não ofereço (e, pasmem, isso realmente diminui MUITO as mamadas); 2) "programar" aproximadamente 3 mamadas por dia, então, seria uma de manhã, uma à tarde e uma à noite, sendo assim, sempre que ela pede nestes intervalos eu ofereço outras coisas e procuro verificar o porquê dela estar pedindo. Pode ser sede? Ofereço água. Pode ser fome? Ofereço algo para comer. Pode ser tédio? Ofereço alguma brincadeira, alguma saída ou atividade que ela gosta. Pode ser atenção? Pego no colo, dou cheiro, largo o que eu estiver fazendo. 3) adio a mamada dizendo que dou depois de 'tal coisa', especialmente se está perto do almoço ou jantar. Aqui em casa, por exemplo, a rotina do sono inclui banho, escovar os dentes, mamar e dormir, então, depois das 18h eu digo que dou depois do banho. Esse último não funciona em dias que eu trabalho, porque eu chego, ela pede e sei que é necessidade do aconchego, então eu dou. Quando ela entrar na escolinha essa rotina provavelmente vai se alterar. 

Bom, a retirada da LD foi 'semi' porque eu não nego sempre, é muito intuitivo e acaba fazendo parte do nosso cotidiano. Mas, uma coisa é certa, eu não dou mais sempre que ela pede. Ela passa o dia longe de mim, às vezes, passa bem, come bem, então eu sei que o mamá não é só para a nutrição, sei que ela pede muito pelo contato comigo. As mamadas antes de dormir e a mamada assim que acorda de manhã são de lei, essas eu não mexi e nem pretendo mexer por enquanto.

Desassociação peito-sono

Então, Liv tinha uma dificuldade muito grande de dormir com o pai dela, era escândalo em cima de escândalo e pensamos que poderia ser porque ela sempre dormia mamando. Resolvi, então, dar o mamá e colocá-la para dormir sem mamar, só ninando. Tentei fazer a Remoção Gentil, mas fui vencida por ela...eu tirava quando ela estava quase dormindo, ela chorava, reclamava, eu dava de novo; chegou uma hora que ela despertou novamente só para ficar lutando comigo, empurrando a minha mão, ao ponto de levar mais de duas horas para dormir novamente. Pensei comigo que aquela não seria uma boa estratégia para nós...

Novamente estabeleci que não admitiria choro desconsolado, nem bebê dormindo de cansaço por tanto chorar. Então, ela mamava, quando eu via que já não estava mais sugando, só 'chupeitando', explicava a ela que ela já tinha mamado e agora ia dormir. Ela brigou, lutou, me empurrou...eu a abracei firme, pedi que se acalmasse, cantei, e aos poucos foi parando...demorou horrores para dormir, mas fiquei ninando ela sentada e ela ficou bem quietinha até dormir. E assim foram as outras noites...ao ponto dela dizer, depois do banho, que ia "mamá, apois [depois] mimi". Começou a dormir mais rápido, mais fácil, inclusive com o pai. Depois da 2a noite já soltava o peito de boa, sabia que ia dormir e aceitou bem.Foi ótimo!

Maaassss...quem cedeu fui eu! Há! Ando tão cansada que várias vezes dormi sentada com ela mamando e acabava não tirando ela do peito para ninar. Resolvi, então, que não era hora de mexer nisso pela minha indisponibilidade física e emocional. As coisas facilitaram para o pai dela, então, já fiquei satisfeita do resultado ter trazido algo bom para a relação deles. A desassociação e o desmame noturno completo só vai acontecer, agora, no meio do ano, quando espero estar com a cabeça mais tranquila, com menos atividades :)

Hoje estou aprendendo a me culpar menos, mas várias vezes fiquei com a consciência pesada de negar peito, de frustrá-la, mas é importante lembrar que são justamente essas frustrações que oferecem ao bebê a oportunidade de fazer a transição para a fase da independência, em termos winnicotianos. O importante é acolher a frustração e não deixar o bebê sozinho, pois somos ainda o referencial deles, o objeto principal de apego. Tudo tem sido feito com calma, com cuidado, com carinho, sem transições bruscas, de modo que nós duas estejamos preparadas para o desmame. Há dias que eu penso na alegria de desmamar; outros eu penso que não estou preparada ainda; então, vejo essas pequenas decisões do cotidiano como preparação, para mim, para ela, para o binômio. E assim a gente prossegue, errando muito, acertando pouco, mas com a certeza que nada é feito por acaso, tudo é pensado, planejado, em função de uma relação o mais saudável possível (com surtadas eventuais, claro, porque somos todos humanos! :P)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Eternos conflitos com a internet...

Faz um tempo que estou tentando escrever alguma coisa para o blog mas não consigo por me deparar sempre com a mesma questão: quem vai ter acesso? Cada dia mais tenho me incomodado com a vivência através da internet, o excesso de exposição - muitas vezes causado por nós mesmos - e o impacto dessas coisas na nossa vida. Será que as coisas que eu coloco aqui podem realmente ser lidas por todo mundo? O que é que pode ser lido por todo mundo? Todos os dias acontece alguma coisa que mexe comigo em relação ao tema e me faz ficar cada vez mais certa que fiz bem em sair do facebook. Uma amiga, dia desses, conversou comigo e disse "ah, é porque Fulano postou isso"...a postagem de Fulano acabava interferindo na minha vida, nas coisas que essa minha amiga saberia de mim sem que fosse através de mim, isso não soa bizarro? Alguém saber de mim, algo que é meu, só meu, sem ser por mim? E se eu não quisesse dividir? Fulano não estava errado, ele estava falando dele, mas até que ponto o nosso 'eu' é só nosso? Outro dia foi a minha mãe, que veio comentar sobre uma saída da Liv, dizendo "ahhh, eu vi que você estava com Sicrano, Beltrano, fazendo não-sei-o-quê"...na hora eu pensei: "oxe, como é que você sabe disso e EU não sei?". Facebook. Ninguém se comunica mais, ninguém conta mais as coisas, simplesmente publicam no facebook e passam a acreditar que agora não precisam mais falar porque está lá, para todos verem; e, se está lá, automaticamente todos sabem, então parte-se do pressuposto que já é algo sabido, já é passado, não se conversa sobre. Se alguém desabafa um sentimento triste e eu curti, comentei, pronto, está resolvido, não se fala mais nisso. Quanta superficialidade nas relações! Quanto mais eu interajo com o mundo e, principalmente, comigo mesma, menos eu tenho vontade de retornar às redes sociais e mais eu questiono a existência desse blog.

Hoje por pouco não deletei o blog, porque ficava filtrando o tempo todo o que colocaria aqui e quão importante (ou não) seria publicar as coisas que tem aqui. Não apaguei por um motivo meu, que é só meu, de elaborações futuras, coisas que pretendo colocar aqui por ter precisado delas e ter tido dificuldade em encontrar, mas que ainda não são publicáveis. E aí? Qual o motivo do blog existir no presente? Agora? Tô virando "a chata da internet", hahaha... Ferramenta maravilhosa, que me ajuda DE-MAIS todos os dias, mas absurdamente sugadora de força vital. Todo mundo vidrado nela noite e dia, dia e noite...computador ligado 99% do tempo, celular em punho 100% do tempo, a urgência com temas não urgentes, a necessidade de fazer as pessoas estarem perto, sem se esforçar em fazê-las estarem perto de verdade. Aos poucos estou tentando eliminar essas urgências, aprendendo a simplesmente deixar para depois, colocar a mim mesma como prioridade, acima dos artefatos. Minha orientadora de mestrado e a atual, de doutorado, pareciam para mim duas ET's que não se familiarizavam com as tecnologias, mas aos poucos tenho visto que elas têm muito mais tempo para viver a vida delas do que eu mesma tinha naquele frenesi com a internet. E olha que eu nem me considerava a pessoa mais viciada de todas, imagina se eu fosse! Eu conseguia sair sem postar onde estava, ficar com os amigos sem precisar responder whatsapp ou entrar no facebook, mas conheço muitos que não conseguem e agora, que estou de fora, fico vendo o quanto a gente está perdendo de contemplar a vida! Estou muito ansiosa para contemplar coisas, vivenciar coisas diferentes e dividir essas coisas só comigo, com mais ninguém...quantos segredos gostosos eu tenho guardado comigo, quantas descobertas eu tenho feito! Estou adorando aprender mais sobre mim mesma e muito ansiosa pelo que está por vir...pareço mais ausente, mais distante, mas estou, paradoxalmente, mais próxima, é assim que eu me sinto.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Re-co-men-do

Passei aqui só para indicar dois blogs suuuuuper legais, de maternagem E feministas, trazendo à tona o protagonismo feminino sem perder de vista o cuidado materno. Cada texto lindo que tenho que me controlar pra não ficar lendo:

http://maetempo.net/

http://femmaterna.com.br/

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Preguiça define...

Só para atualizar, dizer que não esqueci que tenho um blog, mas não consegui terminar nenhum post interessante (tem uns 3 rascunhos pela metade). Aquele sentimento paralisador, aquela vontade de não fazer na-da, aquele calafrio só em pensar que mil coisas esperam ser feitas... Nível de estresse no último grau, tenho certeza que vou cair dura um dia depois que defender esse bendito doutorado! O problema das obrigações acadêmicas é que elas te perseguem na cabeça, ficam te cobrando, você vive em eterna cobrança, é cruel! Pia cheia de louça, roupas por lavar, casa de pernas para o ar, trabalhos por corrigir, tese por fazer, Liv com pilhas alcalinas recarregáveis (hahaha), dinheiro contado, geladeira vazia e desânimo, muito desânimo! Resolvi iniciar uma atividade física, para ver se alivio a cabeça e ganho energia, vamos ver como serão as próximas semanas...andava sonhando com as férias de junho num hotel por aí, de pernas pro ar, mas acho que nem vai rolar ($$$). Tinha pensado em comemorar meus 30 este ano, mas também nem vai rolar ($$$). Vida de gente grande é fogo, essa necessidade em pensar no amanhã tem me incomodado horrores, sou eu querendo me livrar e a vida me empurrando em outra direção. Tem horas que dá vontade de largar tudo e vagar pelo mundo. Pois, apesar dos vários 'nãos' que estou recebendo da vida neste início de ano, ao menos ainda está de pé a fogueira com a tese durante as festividades juninas, essa não pode faltar! Alguém me diz 'SIM', por favor, que esse monte de 'não' tá tenso... ¬¬

Uma amiga uma vez me disse que eu não podia dizer que estava com preguiça devido à quantidade de coisas que eu fazia. Ok, hoje aceitei acreditar nela. É cansaço, não é preguiça.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Por onde andam...

Pois este é um post puramente de notícias. Depois que eu saí do facebook (aleluia!), algumas pessoas queridas que eu só mantinha contato por lá quiseram nos acompanhar (Liv e eu) por aqui. Então, vejamos...estamos bem, na medida do possível. Eu estou em luto, porque retorno ao trabalho esta semana (#morry), e juntamente com as obrigações do doutorado sei que a vida volta a ficar louca. Encontrei uma tranquilidade tão bacana nessas férias, uma forma legal de me relacionar com a minha filha, sei que isso será prejudicado por um tempo, mas tenho esperanças que em algum momento deste ano as coisas vão simplesmente melhorar! A minha defesa está pré-agendada para a última semana de maio e final de março devo entregar para a minha orientadora uma primeira versão final da tese. Conciliar casa, filha, trabalho, doutorado sem descuidar de mim não está fácil...ainda não consegui encontrar um equilíbrio, um formato que me deixe segura. Aos poucos parece que minha cabeça se ordena mais ou sou eu que estou aprendendo a exigir menos de mim...qualquer uma das alternativas está valendo! Tenho curtido meus momentos sozinha, mas às vezes bate um desespero, medo de não dar conta...

Liv está uma graça! Quase 19 meses de muita fofura e esperteza. Fala um monte, forma "frases" de duas palavras ("caiu, papato!"), e começa a apresentar aqueles comportamentos lindos do "terrible two", a agonia frente à frustração. Tenho sido paciente, só me preocupo em perder a paciência quando a coisa apertar nos afazeres! Ela está desfraldada de dia, ainda não tive coragem de iniciar a noite porque a madrugada é sempre tão cansativa... Mas é uma graça quando ela faz cocô no penico e diz: "cocozão! Bate!", e ergue a mão pra gente bater e comemorar. Quando vai dormir ela diz "mamãe, mamá, apois [depois], mimi"; aí acorda de madrugada e me chama para mamar e dormir. Esses dias eu chamei "Lííívia!!!" e ela "já vou!", hahaha, pode!? Ela conta até dez, mas sempre esquece o sete...sabe pedir exatamente o que quer, chama biscoito de "acuia" e cismou que gosta de cocoricó, mesmo eu raramente ligando a televisão para ela assistir alguma coisa. Quando vai sair TEM que levar alguma coisa (brinquedo, comida, sacola, bolsa...) e quando vai dormir também. O problema é que ela leva brinquedos muito grandes para dormir, esses dias levou a banheira em forma de pato! Imagina a dificuldade que é colocar um bebê e uma banheira para dormir! ¬¬ Adora comer, passa o dia inteiro comendo...de vez em quando cisma com algumas comidas. Atualmente vive pedindo 'uva' e 'tomate' (e o bendito 'acuia' de polvilho!). Adora pula-pula, chama de "pu-pu-puia".

E, assim estamos nós, sobrevivendo, vivendo, curtindo... ;)



quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Uma faca de dois gumes

Hoje eu me lembro de algumas coisas que eu pensava antes de ser mãe e do quanto eu não imaginava a força que tinha esse nosso instinto de proteção! Tem um livrinho aqui em casa de dois coelhinhos falando do tamanho do amor, o filho tentava dizer ao pai o quanto ele o amava e o pai dizia que o amava mais...achei a história meio bizarra, parecia uma competição, parecia que o pai diminuía o amor do filho. Por outro lado, extrapolando a leitura, isso me fez pensar sobre o quanto a presença dos filhos causa - naqueles que estão dispostos, claro - mudanças tão significativas que fazem do nosso próprio umbigo uma causa pequena e que nós somos muito mais afetados do que eles.

Ser mãe e ser psicóloga é uma faca de dois gumes. Até hoje eu estava em lua de mel com a Psicologia, observando algumas coisas lindas do processo de desenvolvimento da minha filha, curtindo cada aspecto novo, cada aprendizagem legal, vendo algumas coisas que a gente estuda, que eu ensino. Hoje comecei a me dar conta de alguns comportamentos bem característicos de fases de mudanças significativas, perdas, e fiquei com meu coração bem pequenininho. Sei que ela precisa crescer, precisa enfrentar as batalhas que o mundo vai oferecer, mas ela é tão novinha, tão pequenininha, que doeu. Ficamos nos olhando enquanto ela mamava e eu dizia no meu olhar que queria dar um abraço tão forte nela, tão forte que fizesse ela voltar para minha barriga onde eu podia protegê-la de qualquer coisa! Voltei atrás de algumas decisões imediatas que envolviam outras mudanças e decidi que agora ela só precisa que eu dê segurança, amor e paciência. Ela me disse hoje, mais de uma vez, o quanto precisa de mim, precisa que eu seja mais forte e a ajude a passar pelas tempestades da vida. Mal sabe ela que, na verdade, eu ganho muito mais com a presença dela do que ela com a minha...

E aí eu volto para a minha lua de mel, entendendo que isso não significa só coisas boas, mas significa ser sábia o suficiente para ver, ouvir, interpretar e agir, sem perder de vista o amor que nos levou até lá.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Aquele abraço...

Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu - aquele abraço!
Pra você que me esqueceu - aquele abraço!

Hoje fiquei pensando sobre últimos momentos. Quando a gente perde alguém que ama é impossível não pensar sobre o último instante em que estivemos com a pessoa. Este mês eu perdi a minha vó (de coração, mas foi quem realmente fez esse papel) e foi inevitável lembrar da última vez que estive com ela, final de 2012, com a Lívia novinha, tinha apenas 6 meses...ela já estava bem castigada pelo tempo, pelas dores, em uma situação que nada se assemelhava às minhas lembranças de criança. Ela falava tão baixinho, cansada, e me disse que iria melhorar para poder brincar com a Lívia...com certeza agora ela está melhor, descansando. 

Isso me fez refletir muito sobre meus últimos momentos. Quantas vezes na vida a gente não deseja voltar atrás e tornar aquele último momento algo legal de se lembrar? Se a gente soubesse que aquele beijo seria o último, aquele abraço seria o último, será que viveríamos o momento com menos dor e mais amor? Eu tenho sentido que tenho mudado tanto, ao mesmo tempo sigo tendo lapsos e resquícios de alguém que eu não quero ser e, devo dizer, estraguei um "último abraço". Estraguei com palavras. Palavras que nem de longe conseguiriam aproximar a grandiosidade do momento, a importância dos corpos se aproximando, dos braços envolvendo os corpos, do carinho que não mais seria expressado. Aquele abraço não volta mais. O último momento agora não é mais o abraço, é composto de palavras, palavras que eu não queria ter dito, palavras que não dizem nada. Tenho aprendido cada vez mais que palavras e passado são duas coisas que estragam momentos...quantas vezes eu deixei de viver por causa de palavras e do passado! Se a gente conseguisse internalizar que passado passou e que palavras não são tudo, a vida seria mais fácil. Cada dia que passa isso faz mais sentido para mim e eu sinto mudanças, internas, invisíveis aos olhos dos outros, mas enormes dentro de mim...Não quero mais viver do passado, nem de palavras, quero só viver. Sempre me cobrei tanto (e dos outros)...para quê? Acabei deixando de viver tanta coisa por construções da minha cabeça, por palavras, estraguei o último abraço. Paradoxalmente fico pensando no que dizer, mas não existem palavras que sejam capazes de captar o que estou sentindo, não tem nada que possa ser dito, palavras não dizem nada. Não tem nada que eu possa dizer, nem nada que eu possa fazer, a não ser viver...

Agora é passado. Agora é passado? Agora é passado...

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Porque eu NÃO curto Montessori - parte III

Pois bem, eu tinha prometido terminar antes, mas a semana tem sido bem agitada por aqui, iniciei um processo de desfralde e estamos pensando só em penico o dia todo, rs ;) Conversa para um outro post (ou uma série deles, ehehehe). Penico, cocô e xixi à parte, meu viés para não aceitar a teoria montessoriana, como indiquei no primeiro post, é a abordagem sócio-histórica que, em Psicologia, tem Vigotski como principal representante (cabe destacar que o autor é marxista e segue todos os pressupostos do materialismo histórico-dialético). O principal elemento que Vigotski traz é a noção de nossa constituição é completamente social e histórica...para ele, natural é aquilo que é típico da espécie; no caso de processos psicológicos, existem aqueles que são básicos e, portanto, naturais, como: atenção básica (todo bebê 'prestará' atenção a um objeto que passe diante de seus olhos), memória básica, resolução de problemas práticos (por exemplo, puxar um fio para puxar uma chupeta), algumas reações emocionais primárias, entre outros. Outros processos (que ele chamou de "processos psicológicos superiores"), entretanto, são tipicamente humanos, desenvolvem-se apenas na nossa espécie e se constituem histórica e socialmente, como: capacidade de planejamento, resolução de problemas complexos, processamento superior de memória, pensamento verbalizado, sentimentos, hipotetização, enfim, tudo aquilo que nos diferencia dos animais. Marx, sobre isso, diz que o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que o arquiteto pode criar uma obra na sua mente antes de materializá-la , ao passo que a abelha não. Como estou com penicos rondando a minha mente, poderíamos dizer que fazer xixi e cocô é natural; mas, onde fazer é social...

Então, vejam...as habilidades que Montessori advoga como naturais são, na verdade, sociais, e MUITO sociais. E, por serem sociais, precisam de intervenção para aparecer, seja de que tipo for. A partir do momento que você deixa algo surgir 'espontaneamente' você está, na verdade, deixando a cargo de 'alguém' a intervenção. Aí que está o nó, esse 'alguém', obviamente, vai ser quem detém o poder, quem detém os meios de divulgação do conhecimento, e nada disso é natural. Pensemos em um exemplo simples: digamos que você ensine em uma escola de periferia, advoque pela necessidade de se usar o cotidiano do aluno, e aquele monte de coisa que alguns teóricos educacionais defendem. Se você vai ensinar Música, e começa a utilizar as coisas que o aluno escuta, inevitavelmente ficará diante de uma turma em que 99,9% dos alunos escutam as músicas que estão na mídia. Ok, você pode estudar ritmos, tonalidades, um monte de outros temas...mas você está tirando dos seus alunos a possibilidade de saber ALÉM disso, de intervir efetivamente e apresentar outras possibilidades. Se legarmos à espontaneidade a tarefa de desenvolver determinadas habilidades, estamos, na verdade, dando a um outro o poder de intervir. Quem é que ganha com a espontaneidade e a suposta naturalidade de alguns processos/habilidades? Sem dúvida não é aquele seu aluno de periferia que estará condenado ao seu meio, ao seu cotidiano, sem que se dê a possibilidade de superá-lo...

Juntamente com estes elementos surgem argumentos de meritocracia, da individualidade, do sujeito como única fonte, única possibilidade de crescimento. Ora, se tais habilidades surgem naturalmente ao darmos um ambiente propício, se elas espontaneamente aparecem, se o sujeito tem autonomia para buscar seu próprio crescimento/desenvolvimento, então, qualquer falha é culpa do indivíduo. E aí você em uma conversa informal escuta alguém dizer que aquele Fulaninho, pedindo dinheiro no semáforo, só está ali porque não se esforçou o suficiente, que ele poderia trabalhar honestamente, estudar e vencer na vida. Aí citam exemplos daquele cara, tipo o Sílvio Santos, que era camelô e hoje é bilionário, dono de uma emissora de TV...e eu pergunto: quantos camelôs têm realmente a possibilidade de se tornar um bilionário? É muito inocente acreditarmos que somente o esforço individual é responsável pelo desenvolvimento do indivíduo...exclui-se, esquece-se que nós somos constituídos social e historicamente, nossa natureza é social!

Pois bem, só isso para mim já é suficiente para achar a teoria epistemologicamente inadequada. Isso não quer dizer que eu ache ruins algumas estratégias tipicamente montessorianas (lembram que estratégia é diferente de concepção epistemológica?). Logo, parece razoável aceitar que os ambientes para bebês sejam adaptados ao seu tamanho, por exemplo, de modo que eles tenham autonomia para explorar o espaço...isso é uma estratégia, muito válida, por sinal, mas não me faz montessoriana, não me faz aceitar os pressupostos teóricos da autora. Percebem a diferença? O fato de eu dar aula expositiva também não me faz uma professora tradicional. O fato de eu utilizar reforços em alguns momentos não me faz uma behaviorista. Por isso eu curto os cantinhos de leitura que a galera faz, os quartinhos adaptados, mas eu NÃO aceito que isso é suficiente, eu intervenho ativamente, eu busco humanizar a minha filha, ofereço a ela ferramentas, instrumentos que eu já domino - por ser um membro mais habilidoso no uso deles (leia-se: já sou humana, no sentido de possuir processos psicológicos tipicamente humanos), entendo que as aprendizagens oferecidas proporcionarão desenvolvimento, não o contrário! E é por isso que eu não curto Montessori... ;)