segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Por onde andam...

Pois este é um post puramente de notícias. Depois que eu saí do facebook (aleluia!), algumas pessoas queridas que eu só mantinha contato por lá quiseram nos acompanhar (Liv e eu) por aqui. Então, vejamos...estamos bem, na medida do possível. Eu estou em luto, porque retorno ao trabalho esta semana (#morry), e juntamente com as obrigações do doutorado sei que a vida volta a ficar louca. Encontrei uma tranquilidade tão bacana nessas férias, uma forma legal de me relacionar com a minha filha, sei que isso será prejudicado por um tempo, mas tenho esperanças que em algum momento deste ano as coisas vão simplesmente melhorar! A minha defesa está pré-agendada para a última semana de maio e final de março devo entregar para a minha orientadora uma primeira versão final da tese. Conciliar casa, filha, trabalho, doutorado sem descuidar de mim não está fácil...ainda não consegui encontrar um equilíbrio, um formato que me deixe segura. Aos poucos parece que minha cabeça se ordena mais ou sou eu que estou aprendendo a exigir menos de mim...qualquer uma das alternativas está valendo! Tenho curtido meus momentos sozinha, mas às vezes bate um desespero, medo de não dar conta...

Liv está uma graça! Quase 19 meses de muita fofura e esperteza. Fala um monte, forma "frases" de duas palavras ("caiu, papato!"), e começa a apresentar aqueles comportamentos lindos do "terrible two", a agonia frente à frustração. Tenho sido paciente, só me preocupo em perder a paciência quando a coisa apertar nos afazeres! Ela está desfraldada de dia, ainda não tive coragem de iniciar a noite porque a madrugada é sempre tão cansativa... Mas é uma graça quando ela faz cocô no penico e diz: "cocozão! Bate!", e ergue a mão pra gente bater e comemorar. Quando vai dormir ela diz "mamãe, mamá, apois [depois], mimi"; aí acorda de madrugada e me chama para mamar e dormir. Esses dias eu chamei "Lííívia!!!" e ela "já vou!", hahaha, pode!? Ela conta até dez, mas sempre esquece o sete...sabe pedir exatamente o que quer, chama biscoito de "acuia" e cismou que gosta de cocoricó, mesmo eu raramente ligando a televisão para ela assistir alguma coisa. Quando vai sair TEM que levar alguma coisa (brinquedo, comida, sacola, bolsa...) e quando vai dormir também. O problema é que ela leva brinquedos muito grandes para dormir, esses dias levou a banheira em forma de pato! Imagina a dificuldade que é colocar um bebê e uma banheira para dormir! ¬¬ Adora comer, passa o dia inteiro comendo...de vez em quando cisma com algumas comidas. Atualmente vive pedindo 'uva' e 'tomate' (e o bendito 'acuia' de polvilho!). Adora pula-pula, chama de "pu-pu-puia".

E, assim estamos nós, sobrevivendo, vivendo, curtindo... ;)



quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Uma faca de dois gumes

Hoje eu me lembro de algumas coisas que eu pensava antes de ser mãe e do quanto eu não imaginava a força que tinha esse nosso instinto de proteção! Tem um livrinho aqui em casa de dois coelhinhos falando do tamanho do amor, o filho tentava dizer ao pai o quanto ele o amava e o pai dizia que o amava mais...achei a história meio bizarra, parecia uma competição, parecia que o pai diminuía o amor do filho. Por outro lado, extrapolando a leitura, isso me fez pensar sobre o quanto a presença dos filhos causa - naqueles que estão dispostos, claro - mudanças tão significativas que fazem do nosso próprio umbigo uma causa pequena e que nós somos muito mais afetados do que eles.

Ser mãe e ser psicóloga é uma faca de dois gumes. Até hoje eu estava em lua de mel com a Psicologia, observando algumas coisas lindas do processo de desenvolvimento da minha filha, curtindo cada aspecto novo, cada aprendizagem legal, vendo algumas coisas que a gente estuda, que eu ensino. Hoje comecei a me dar conta de alguns comportamentos bem característicos de fases de mudanças significativas, perdas, e fiquei com meu coração bem pequenininho. Sei que ela precisa crescer, precisa enfrentar as batalhas que o mundo vai oferecer, mas ela é tão novinha, tão pequenininha, que doeu. Ficamos nos olhando enquanto ela mamava e eu dizia no meu olhar que queria dar um abraço tão forte nela, tão forte que fizesse ela voltar para minha barriga onde eu podia protegê-la de qualquer coisa! Voltei atrás de algumas decisões imediatas que envolviam outras mudanças e decidi que agora ela só precisa que eu dê segurança, amor e paciência. Ela me disse hoje, mais de uma vez, o quanto precisa de mim, precisa que eu seja mais forte e a ajude a passar pelas tempestades da vida. Mal sabe ela que, na verdade, eu ganho muito mais com a presença dela do que ela com a minha...

E aí eu volto para a minha lua de mel, entendendo que isso não significa só coisas boas, mas significa ser sábia o suficiente para ver, ouvir, interpretar e agir, sem perder de vista o amor que nos levou até lá.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Aquele abraço...

Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu - aquele abraço!
Pra você que me esqueceu - aquele abraço!

Hoje fiquei pensando sobre últimos momentos. Quando a gente perde alguém que ama é impossível não pensar sobre o último instante em que estivemos com a pessoa. Este mês eu perdi a minha vó (de coração, mas foi quem realmente fez esse papel) e foi inevitável lembrar da última vez que estive com ela, final de 2012, com a Lívia novinha, tinha apenas 6 meses...ela já estava bem castigada pelo tempo, pelas dores, em uma situação que nada se assemelhava às minhas lembranças de criança. Ela falava tão baixinho, cansada, e me disse que iria melhorar para poder brincar com a Lívia...com certeza agora ela está melhor, descansando. 

Isso me fez refletir muito sobre meus últimos momentos. Quantas vezes na vida a gente não deseja voltar atrás e tornar aquele último momento algo legal de se lembrar? Se a gente soubesse que aquele beijo seria o último, aquele abraço seria o último, será que viveríamos o momento com menos dor e mais amor? Eu tenho sentido que tenho mudado tanto, ao mesmo tempo sigo tendo lapsos e resquícios de alguém que eu não quero ser e, devo dizer, estraguei um "último abraço". Estraguei com palavras. Palavras que nem de longe conseguiriam aproximar a grandiosidade do momento, a importância dos corpos se aproximando, dos braços envolvendo os corpos, do carinho que não mais seria expressado. Aquele abraço não volta mais. O último momento agora não é mais o abraço, é composto de palavras, palavras que eu não queria ter dito, palavras que não dizem nada. Tenho aprendido cada vez mais que palavras e passado são duas coisas que estragam momentos...quantas vezes eu deixei de viver por causa de palavras e do passado! Se a gente conseguisse internalizar que passado passou e que palavras não são tudo, a vida seria mais fácil. Cada dia que passa isso faz mais sentido para mim e eu sinto mudanças, internas, invisíveis aos olhos dos outros, mas enormes dentro de mim...Não quero mais viver do passado, nem de palavras, quero só viver. Sempre me cobrei tanto (e dos outros)...para quê? Acabei deixando de viver tanta coisa por construções da minha cabeça, por palavras, estraguei o último abraço. Paradoxalmente fico pensando no que dizer, mas não existem palavras que sejam capazes de captar o que estou sentindo, não tem nada que possa ser dito, palavras não dizem nada. Não tem nada que eu possa dizer, nem nada que eu possa fazer, a não ser viver...

Agora é passado. Agora é passado? Agora é passado...

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Porque eu NÃO curto Montessori - parte III

Pois bem, eu tinha prometido terminar antes, mas a semana tem sido bem agitada por aqui, iniciei um processo de desfralde e estamos pensando só em penico o dia todo, rs ;) Conversa para um outro post (ou uma série deles, ehehehe). Penico, cocô e xixi à parte, meu viés para não aceitar a teoria montessoriana, como indiquei no primeiro post, é a abordagem sócio-histórica que, em Psicologia, tem Vigotski como principal representante (cabe destacar que o autor é marxista e segue todos os pressupostos do materialismo histórico-dialético). O principal elemento que Vigotski traz é a noção de nossa constituição é completamente social e histórica...para ele, natural é aquilo que é típico da espécie; no caso de processos psicológicos, existem aqueles que são básicos e, portanto, naturais, como: atenção básica (todo bebê 'prestará' atenção a um objeto que passe diante de seus olhos), memória básica, resolução de problemas práticos (por exemplo, puxar um fio para puxar uma chupeta), algumas reações emocionais primárias, entre outros. Outros processos (que ele chamou de "processos psicológicos superiores"), entretanto, são tipicamente humanos, desenvolvem-se apenas na nossa espécie e se constituem histórica e socialmente, como: capacidade de planejamento, resolução de problemas complexos, processamento superior de memória, pensamento verbalizado, sentimentos, hipotetização, enfim, tudo aquilo que nos diferencia dos animais. Marx, sobre isso, diz que o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que o arquiteto pode criar uma obra na sua mente antes de materializá-la , ao passo que a abelha não. Como estou com penicos rondando a minha mente, poderíamos dizer que fazer xixi e cocô é natural; mas, onde fazer é social...

Então, vejam...as habilidades que Montessori advoga como naturais são, na verdade, sociais, e MUITO sociais. E, por serem sociais, precisam de intervenção para aparecer, seja de que tipo for. A partir do momento que você deixa algo surgir 'espontaneamente' você está, na verdade, deixando a cargo de 'alguém' a intervenção. Aí que está o nó, esse 'alguém', obviamente, vai ser quem detém o poder, quem detém os meios de divulgação do conhecimento, e nada disso é natural. Pensemos em um exemplo simples: digamos que você ensine em uma escola de periferia, advoque pela necessidade de se usar o cotidiano do aluno, e aquele monte de coisa que alguns teóricos educacionais defendem. Se você vai ensinar Música, e começa a utilizar as coisas que o aluno escuta, inevitavelmente ficará diante de uma turma em que 99,9% dos alunos escutam as músicas que estão na mídia. Ok, você pode estudar ritmos, tonalidades, um monte de outros temas...mas você está tirando dos seus alunos a possibilidade de saber ALÉM disso, de intervir efetivamente e apresentar outras possibilidades. Se legarmos à espontaneidade a tarefa de desenvolver determinadas habilidades, estamos, na verdade, dando a um outro o poder de intervir. Quem é que ganha com a espontaneidade e a suposta naturalidade de alguns processos/habilidades? Sem dúvida não é aquele seu aluno de periferia que estará condenado ao seu meio, ao seu cotidiano, sem que se dê a possibilidade de superá-lo...

Juntamente com estes elementos surgem argumentos de meritocracia, da individualidade, do sujeito como única fonte, única possibilidade de crescimento. Ora, se tais habilidades surgem naturalmente ao darmos um ambiente propício, se elas espontaneamente aparecem, se o sujeito tem autonomia para buscar seu próprio crescimento/desenvolvimento, então, qualquer falha é culpa do indivíduo. E aí você em uma conversa informal escuta alguém dizer que aquele Fulaninho, pedindo dinheiro no semáforo, só está ali porque não se esforçou o suficiente, que ele poderia trabalhar honestamente, estudar e vencer na vida. Aí citam exemplos daquele cara, tipo o Sílvio Santos, que era camelô e hoje é bilionário, dono de uma emissora de TV...e eu pergunto: quantos camelôs têm realmente a possibilidade de se tornar um bilionário? É muito inocente acreditarmos que somente o esforço individual é responsável pelo desenvolvimento do indivíduo...exclui-se, esquece-se que nós somos constituídos social e historicamente, nossa natureza é social!

Pois bem, só isso para mim já é suficiente para achar a teoria epistemologicamente inadequada. Isso não quer dizer que eu ache ruins algumas estratégias tipicamente montessorianas (lembram que estratégia é diferente de concepção epistemológica?). Logo, parece razoável aceitar que os ambientes para bebês sejam adaptados ao seu tamanho, por exemplo, de modo que eles tenham autonomia para explorar o espaço...isso é uma estratégia, muito válida, por sinal, mas não me faz montessoriana, não me faz aceitar os pressupostos teóricos da autora. Percebem a diferença? O fato de eu dar aula expositiva também não me faz uma professora tradicional. O fato de eu utilizar reforços em alguns momentos não me faz uma behaviorista. Por isso eu curto os cantinhos de leitura que a galera faz, os quartinhos adaptados, mas eu NÃO aceito que isso é suficiente, eu intervenho ativamente, eu busco humanizar a minha filha, ofereço a ela ferramentas, instrumentos que eu já domino - por ser um membro mais habilidoso no uso deles (leia-se: já sou humana, no sentido de possuir processos psicológicos tipicamente humanos), entendo que as aprendizagens oferecidas proporcionarão desenvolvimento, não o contrário! E é por isso que eu não curto Montessori... ;)