domingo, 12 de janeiro de 2014

Aquele abraço...

Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu - aquele abraço!
Pra você que me esqueceu - aquele abraço!

Hoje fiquei pensando sobre últimos momentos. Quando a gente perde alguém que ama é impossível não pensar sobre o último instante em que estivemos com a pessoa. Este mês eu perdi a minha vó (de coração, mas foi quem realmente fez esse papel) e foi inevitável lembrar da última vez que estive com ela, final de 2012, com a Lívia novinha, tinha apenas 6 meses...ela já estava bem castigada pelo tempo, pelas dores, em uma situação que nada se assemelhava às minhas lembranças de criança. Ela falava tão baixinho, cansada, e me disse que iria melhorar para poder brincar com a Lívia...com certeza agora ela está melhor, descansando. 

Isso me fez refletir muito sobre meus últimos momentos. Quantas vezes na vida a gente não deseja voltar atrás e tornar aquele último momento algo legal de se lembrar? Se a gente soubesse que aquele beijo seria o último, aquele abraço seria o último, será que viveríamos o momento com menos dor e mais amor? Eu tenho sentido que tenho mudado tanto, ao mesmo tempo sigo tendo lapsos e resquícios de alguém que eu não quero ser e, devo dizer, estraguei um "último abraço". Estraguei com palavras. Palavras que nem de longe conseguiriam aproximar a grandiosidade do momento, a importância dos corpos se aproximando, dos braços envolvendo os corpos, do carinho que não mais seria expressado. Aquele abraço não volta mais. O último momento agora não é mais o abraço, é composto de palavras, palavras que eu não queria ter dito, palavras que não dizem nada. Tenho aprendido cada vez mais que palavras e passado são duas coisas que estragam momentos...quantas vezes eu deixei de viver por causa de palavras e do passado! Se a gente conseguisse internalizar que passado passou e que palavras não são tudo, a vida seria mais fácil. Cada dia que passa isso faz mais sentido para mim e eu sinto mudanças, internas, invisíveis aos olhos dos outros, mas enormes dentro de mim...Não quero mais viver do passado, nem de palavras, quero só viver. Sempre me cobrei tanto (e dos outros)...para quê? Acabei deixando de viver tanta coisa por construções da minha cabeça, por palavras, estraguei o último abraço. Paradoxalmente fico pensando no que dizer, mas não existem palavras que sejam capazes de captar o que estou sentindo, não tem nada que possa ser dito, palavras não dizem nada. Não tem nada que eu possa dizer, nem nada que eu possa fazer, a não ser viver...

Agora é passado. Agora é passado? Agora é passado...

Um comentário:

  1. Sábias palavras amiga.. Também tenho pensado nisso, nas palavras que falo, ou que falei, no que fiz aqueles que estão a minha volta, nas minhas atitudes com a minha família.. E apesar de já ter mudado tanto, percebo que ainda há muito a mudar! Mas, devagarzinho a gente chega lá!! Saudades.. Abraços!

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