terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Capítulo I - Das coisas que a gente aprende

Para mim o problema sempre foi começar. Começar coisas diferentes implicam mudanças e eu nunca fui preparada para elas. Tenho clara lembrança da minha infância e do sentimento de efemeridade que se instalou em mim. Sou filha de militar e, apesar de não ter me mudado tanto quanto meus pais, ou até mesmo a minha irmã mais velha, fomos criadas como se sempre estivéssemos na iminência de ir a algum lugar. Quando comprávamos algo e vinha uma caixa com papelão grosso meu pai sempre guardava, dizendo o quanto ela era boa para mudança. Minha mãe, então, sempre propagava o mantra que não queria criar vínculos, não queria se apegar, para não sofrer com a mudança (que, na verdade, ninguém sabia quando viria ou se viria). E assim fomos crescendo, tentando não criar vínculos fortes, vivenciando a superficialidade de relações que estavam fadadas a terminar. 

Constatar, depois de 29 anos, que nunca estive "inteira" em uma relação foi algo muito forte para mim. Parece que depois de todo esse tempo eu sigo vivendo - apesar de já ter a minha própria vida definida - como a mesma garotinha que não devia se apegar, se entregar, para não sofrer, como se sofrimento não fizesse parte da nossa existência. E minhas amizades se constituíram dessa forma, em uma neutralidade assustadora até para mim, em uma falta de envolvimento da minha parte que me marcaram profundamente. Percebi-me assim. E, assim, percebi-me sozinha. Pior, percebi que tenho medo de encontrar comigo mesma, de enfrentar essa essência que se envolve, que se apega, que sofre... Por essas e outras vivi sempre em função dos outros, de agir em função do que os outros esperavam de mim (ou que eu achava que esperavam), ao ponto de nem saber mais o que é meu, de fato, e o que é dos outros. Passei a me cobrar por tantas coisas, um desgaste emocional constante, uma dificuldade em simplesmente "ser eu". 

Estou vivendo isso, descobrindo e aprendendo. Tenho (muitos) limites que não podem ser ultrapassados sem sofrimento - às vezes inútil - e que começo a entender que são meus, fazem parte de mim, e tenho que aceitar alguns, ao mesmo tempo que procuro mudar outros. A opção por me desfazer de uma ferramenta que estava se tornando o símbolo da efemeridade e da fuga de mim mesma foi essencial para essa mudança. Relações de segundos em "uma curtida", um saber tanto e não saber nada das pessoas que ali convivem. Por quê? Para quê? Sinto que ali estão todos sozinhos, vivendo a vida através de um artefato, por falta de tempo, por preguiça, por comodidade, por facilidade, por milhões de motivos estão todos ali...e eu resolvi cultivar outras coisas, nem que esse cultivo seja apenas aprender a tolerar a mim mesma, profundamente, significativamente. Sei e entendo que isso é mesmo algo somente meu, uma percepção minha, mas só de escrever que isso é meu já fico feliz; feliz por agir pelo que eu sou e pelo que eu quero ser. Quero me entregar à minha vida e à vida dos que me rodeiam, não apenas "curtir" momentos efêmeros (ponto para a maternidade!). Sei que viver efemeridades também pode ser significativo, mas essas eu já vivi bastante. Quero conhecer e ser conhecida. Quero saber viver no meu caos. Quero aceitar mudanças. Quero aprender a "ser eu". Estou, finalmente, me permitindo aprender...

2 comentários:

  1. Geo.. Seu texto veio como uma "bomba" em cima de mim!! Tenho pensado muito sobre essa questão também, de ser eu mesma, de aceitar com a cabeça erguida as mudanças que estão vindo pra minha vida, de querer viver uma vida diferente! Realmente, algumas ferramentas que encontramos pela internet nos fazem fugir de muitas coisas que acontecem na nossa realidade. Ainda não cheguei a me desfazer dessas ferramentas, mas já estou diminuindo bastante meu acesso a elas! Não tenho tido "saco" pra tanta ladainha, mimimi, conversas insignificantes que acontecem.. Estou como você, quero investir em mim mesma, na minha família, nas pessoas que são especiais pra mim!! Muito bom seu texto!! É isso aí.. Muito sucesso pra você!! Bjs!

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    1. É isso mesmo, amiga...e você nem imagina como esses pequenos passos que a gente dá, apesar de parecem pequenos e ridículos (como sair do facebook, hahaha), nos mostram outras possibilidades e apresentam outras formas de viver a vida, nos reconfiguram :) Achei que fosse sentir mais falta do meu vício, sabia? Mas estou vivendo super bem, até melhor :D

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